quinta-feira, 5 de maio de 2016

Papa Francisco

A caminho

· ​Missa em Santa Marta ·

A «via justa» chama-se Jesus e para o cristão o caminho da vida é feito «um pouco de cruz e um pouco de ressurreição». Mas fica para trás quem se detém como «uma múmia espiritual», quem erra a direção e teima, quem passa a existência rodando no vazio e quem se deixa seduzir pelas belezas mundanas: contra tais atitudes alertou o Papa, convidando expressamente a um exame de consciência para verificar a própria experiência de fé, na missa celebrada na manhã de terça-feira, 3 de maio, na capela da Casa de Santa Marta.
O trecho evangélico de João proposto pela liturgia (14, 6-14) – explicou Francisco – «é parte daquele longo discurso de Jesus na última ceia, o discurso de despedida: Ele despede-se antes da paixão». E diz aos apóstolos: «Não vos deixarei órfãos; não vos deixarei sós; vou preparar-vos um lugar». Além disso, observou o Papa, nos «dois versículos antes deste trecho que ouvimos» lê-se: «Para onde irei, vós conheceis o caminho». Assim responde Tomé: «Mas, Senhor, não sabemos para onde vais, como podemos conhecer o caminho?». Neste ponto inicia a passagem evangélica da liturgia de hoje, com Jesus que diz a Tomé: «Eu sou o caminho». É «a resposta à angústia, à tristeza dos discípulos por esta despedida de Jesus: eles não compreendiam muito mas estavam tristes». Por isso Jesus diz a Tomé: «Eu sou o caminho».
Esta expressão de Jesus, afirmou Francisco, «faz-nos pensar na vida cristã», que «é um caminho: começamos com o batismo a empreender este caminho e caminhamos, caminhamos, caminhamos». Pode-se dizer que a vida cristã «é uma estrada e a estrada justa é Jesus». Tanto que ele mesmo disse: «Eu sou o caminho». Por conseguinte, «para caminhar bem na vida cristã a estrada é Jesus».
Mas, advertiu o Papa, «há muitos modos de caminhar». Antes de tudo, «há aquele que não caminha. Um cristão que não caminha, que não avança na estrada, é um cristão “não cristão”, por assim dizer: é um cristão um pouco paganizado, está ali, parado, imóvel, não vai em frente na vida cristã, não faz florescer as bem-aventuranças na sua vida, nem pratica obras de misericórdia, está parado». E mais, acrescentou Francisco, «perdoai-me a palavra, mas é como se fosse uma “múmia”, ali, uma “múmia espiritual”». E «há cristãos que são “múmias espirituais”, parados: nem praticam o mal nem o bem». Contudo, este modo de ser «não produz fruto: não é um cristão fecundo porque não caminha».
Depois, prosseguiu o Papa, há alguns que «caminham mas erram a estrada». Porém, «também nós muitas vezes erramos a estrada». É «o próprio Senhor quem vem e nos ajuda, não é uma tragédia errar a estrada». Com efeito «a tragédia é ser teimoso e afirmar: “esta é a estrada” e não deixar que a voz do Senhor nos diga: “Esta não é a estrada, volta para trás e retoma a estrada verdadeira”». É preciso «retomar a estrada quando nos damos conta dos erros que cometemos» e «não ser teimosos e ir sempre pela estrada errada, porque isto nos afasta de Jesus, pois ele é a estrada e não a estrada errada».
Depois, explicou Francisco «há outros que caminham mas não sabem para onde vão: são errantes na vida cristã, vagabundos». A ponto que «a sua vida é rodar para lá e para cá e deste modo perdem a beleza de se aproximar de Jesus na vida de Jesus». Resumindo, «perdem a estrada porque vagueiam e muitas vezes este vaguear, errante, os leva a uma vida sem saída: o rodar demasiado transforma-se num labirinto e depois não sabem como sair». Assim, no final «perdem a chamada de Jesus, não têm uma bússola para sair e rodam, rodam, procuram».
E, continuou o Papa, «há outros que no caminho são seduzidos por uma beleza, por algo, e param no meio da estrada, fascinados pelo que vêem, por uma ideia, uma proposta, uma paisagem, e param». Mas «a vida cristã não é um fascínio: é uma verdade. É Jesus Cristo». E «santa Teresa de Ávila dizia, falando sobre este caminho: “Nós caminhamos para chegar ao encontro com Jesus”»: precisamente «como uma pessoa que caminha para chegar a um lugar, não pára porque lhe agrada aquele hotel, ou a paisagem, mas prossegue em frente, em frente». Mas «na vida cristã» faz bem «parar, olhando para o que nos agrada, para as belezas – há belezas e é preciso olhar para elas porque foram criadas por Deus – mas sem permanecer ali». Devemos «continuar a vida cristã». Por isso, é preciso fazer de modo «que algo bonito, tranquilo, uma vida tranquila não nos fascine a ponto de parar». E assim, afirmou o Papa, há «muitas modalidades para não fazer o caminho justo», porque «o caminho justo, a justa via é Jesus».
Na perspetiva desta reflexão, o Pontífice sugeriu um exame de consciência através de uma série de perguntas diretas: «Cada um de nós hoje pode perguntar: o meu caminho cristão, que teve início com o batismo, como está? Parado? Errei a estrada? Estou a vaguear continuamente e não sei para onde ir espiritualmente? Paro diante do que me agrada: mundanidade, vaidade – muitas coisas, não? – ou vou sempre em frente, realizando as bem-aventuranças e as obras de misericórdia?». E acrescentou, «faz bem questionar-nos: é um verdadeiro exame de consciência!». Substancialmente: «De que modo caminho? Sigo Jesus?».
E «como seguir Jesus – explicou o Papa – disse-nos Paulo na primeira leitura: “Transmiti o que também eu recebi, isto é, Jesus. Cristo morreu pelos nossos pecados segundo as Escrituras, foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia segundo as Escrituras e apareceu a Cefas e depois aos doze”». Eis, explicou Francisco, «seguir Jesus é estar convicto disto, a via de Jesus é esta: há sempre um pouco de cruz e de ressurreição». Mas «esta é a vida» e «quando Jesus diz a Tomé: “Eu sou o caminho”, disse-lhe isto». Portanto, insistiu o Pontífice, «este é o caminho e este é o caminho cristão: a via de Jesus tem tanta consolação, glória e também cruz, mas sempre com paz na alma».
Concluindo a sua reflexão, o Papa reafirmou que «não seguem totalmente Jesus o cristão que pára, o que erra a estrada, aquele que passa a vida rodando, aquele que se deixa fascinar e seduzir pelas belezas e coisas que lhe interessam e se detém para as ver, atrasando o caminho»
Antes de retomar a celebração, Francisco convidou novamente a fazer um exame de consciência – pelo menos «cinco minutinhos» – para nos questionarmos: «Como sou eu neste caminho cristão? Parado, errado, sempre a vaguear, detendo-me diante das coisas que me agradam?». Ou correspondo ao que disse Jesus: «Eu sou o caminho»? E, exortou, «peçamos ao Espírito Santo que nos ensine a caminhar bem, sempre, e quando nos cansamos» façamos «um pequeno descanso e continuemos». Ao Senhor, concluiu, «peçamos esta graça».
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