domingo, 31 de julho de 2016

Osservatore Romano

Sexta-feira de dor

· ​Depois da visita a Auschwitz e Birkenau ·

Ainda abalado por quanto viu poucas horas antes em Auschwitz, na tarde de sexta-feira 29 de julho o Papa Francisco visitou outro lugar de sofrimento, o hospital pediátrico universitário (Uch) de Cracóvia, e presidiu depois no final da tarde à Via-Sacra para colocar aos pés da cruz de Cristo os sofrimentos que viveu diretamente ao longo de um dia deveras significativo. Repropondo as perguntas do homem angustiado diante do sofrimento, o Pontífice convidou os oitocentos mil jovens reunidos nos relvados de Błonia a rezar em particular pelos sírios em fuga da guerra. «Saudamo-los e acolhemo-los com afeto fraterno e com simpatia» disse, suscitando um rumoroso e convicto aplauso de adesão.
Anteriormente, para levar o seu conforto aos doentes, aos familiares, médicos e enfermeiros, foi ao hospital de Prokocim. Instituído e 1835, é a primeira secção polaca de pediatria, a terceira no mundo, depois de Florença e Viena, que tem a cátedra universitária do ramo da medicina que se ocupa de crianças. Neste santuário do sofrimento inocente Francisco deixou em dom um quadro evocativo, obra de Pietro Casentini, que se intitula Davanti alla porta: representa uma multidão de doentes à espera de Jesus, que se divisa por detrás da entrada de uma casa.
Em seguida, o Papa chegou de carro ao parque Jordan para outro encontro tradicional da jmj: a Via-Sacra com os jovens. Entre eles mais de duzentos cristãos iraquianos. Os jovens provenientes das dioceses caldeias de Baghdad, Kirkuk e Erbil eram acompanhados pelo bispo Basel Salim Yaldo e pelo arcebispo Bashar Warda, ambos caldeus, e por uma dezena de jovens sacerdotes e sete religiosas. Entre eles estavam também os refugiados na capital, provenientes da região autónoma do Curdistão iraquiano, obrigados a abandonar as próprias famílias e as aldeias da planície do Nínive. Um deles vestia o hábito tradicional.
do nosso enviado Gianluca Biccini

Ser rico aos olhos de Deus

Comentário do dia:

São Basílio (c. 330-379), monge, bispo de Cesareia da Capadócia, doutor da Igreja
Homilia 6, sobre as riquezas; PG 31, 261ss.



«Que hei-de fazer? Onde encontrarei que comer? Que vestir?» Eis o que diz este rico. O seu coração sofre, a inquietação devora-o, porque aquilo que regozija os outros acabrunha o avarento. O facto de ter os celeiros cheios não é para ele motivo de felicidade. O que atormenta dolorosamente a sua alma é esse excesso de riquezas, transbordando dos seus celeiros. [...]

Considera, homem, quem te cumulou com a sua generosidade. Reflete um pouco sobre ti mesmo: quem és tu? O que te foi confiado? De quem recebeste esse cargo? Porque foste tu escolhido, em detrimento de muitos outros? O Deus de bondade fez de ti seu administrador; és responsável pelos teus companheiros de trabalho: não penses que tudo foi preparado apenas para ti! Dispõe dos bens que possuis como se eles pertencessem aos outros. O prazer que eles te proporcionam dura pouco, em breve te escaparão e desaparecerão, mas ser-te-ão pedidas contas rigorosas. Ora, tu guardas tudo, tens portas e fechaduras bem cerradas; e embora tenhas tudo muito bem fechado, a ansiedade impede-te de dormir. [...]

«Que hei-de fazer?» Havia uma resposta pronta: «Encherei as almas dos famintos; abrirei os meus celeiros e convidarei todos os que têm necessidade. [...] Farei ouvir uma palavra generosa: vós todos que tendes fome, vinde a mim, tomai a vossa parte dos dons concedidos por Deus, cada qual segundo as suas necessidades.»




Falsa riqueza

Décimo Oitavo Domingo do Tempo Comum



A liturgia deste Domingo questiona-nos acerca da atitude que assumimos face aos bens deste mundo. Sugere que eles não podem ser os deuses que dirigem a nossa vida; e convida-nos a descobrir e a amar esses outros bens que dão verdadeiro sentido à nossa existência e que nos garantem a vida em plenitude.
No Evangelho, através da “parábola do rico insensato”, Jesus denuncia a falência de uma vida voltada apenas para os bens materiais: o homem que assim procede é um “louco”, que esqueceu aquilo que, verdadeiramente, dá sentido à existência.
Na primeira leitura, temos uma reflexão do “qohélet” sobre o sem sentido de uma vida voltada para o acumular bens… Embora a reflexão do “qohélet” não vá mais além, ela constitui um patamar para partirmos à descoberta de Deus e dos seus valores e para encontramos aí o sentido último da nossa existência.
A segunda leitura convida-nos à identificação com Cristo: isso significa deixarmos os “deuses” que nos escravizam e renascermos continuamente, até que em nós se manifeste o Homem Novo, que é “imagem de Deus”.

sábado, 30 de julho de 2016

A morte de João Batista

Comentário do dia:

São João Crisóstomo (c. 345-407), presbítero de Antioquia, bispo de Constantinopla, doutor da Igreja
Homilias sobre S. Mateus, n.º 48




«Dá-me agora mesmo num prato a cabeça de João Batista.» E Deus permitiu que tal acontecesse, não lançou um raio do alto dos céus para devorar aquele rosto insolente; não ordenou à terra que se abrisse e engolisse os convivas daquele horroroso banquete. Deus dava assim a mais bela coroa ao justo e deixava uma consolação magnífica aos que, no futuro, viessem a ser vítimas de injustiças semelhantes. Escutemo-lo, pois, todos nós que, apesar da nossa vida honesta, temos de suportar os malvados: [...] o maior dos filhos nascidos de mulher (cf Lc 7,28) foi levado à morte a pedido de uma jovem impudica, de uma mulher perdida; e foi-o por ter defendido a lei divina. Que estas considerações nos façam suportar corajosamente os nossos próprios sofrimentos. [...]

Mas repara no tom moderado do evangelista, que procura até circunstâncias atenuantes para este crime. A propósito de Herodes, nota que agiu «por causa do juramento e dos convidados» e que «ficou consternado»; e a propósito da jovem, observa que tinha sido «instigada pela mãe». [...[] Aprendamos, também nós, a não odiar os malvados, a não criticar as faltas do próximo, ocultando-as tão discretamente quanto possível, a acolher a caridade na nossa alma. Porque, acerca desta mulher impudica e sanguinária, o evangelista falou com toda a moderação possível; [...] tu, porém, não hesitas em tratar o teu próximo com malvadez. [...] Não é assim que se comportam os santos; pelo contrário, eles choram pelos pecadores, em vez de os amaldiçoarem. Façamos como eles; choremos por Herodíades e pelos que a imitam. Porque vemos hoje muitos banquetes do género do de Herodes, nos quais não se condena à morte o precursor, mas se destroem os membros de Cristo.

Evangelho segundo S. Mateus 14,1-12.


Naquele tempo, o tetrarca Herodes ouviu falar da fama de Jesus
e disse aos seus familiares: «Esse homem é João Baptista que ressuscitou dos mortos. Por isso é que nele se exercem tais poderes miraculosos».
De facto, Herodes tinha mandado prender João e algemá-lo no cárcere, por causa de Herodíades, a mulher de seu irmão Filipe.
Porque João dizia constantemente a Herodes: «Não te é permitido tê-la por mulher».
E embora quisesse dar-Lhe a morte, tinha receio da multidão, que o considerava como profeta.
Ocorreu entretanto o aniversário de Herodes e a filha de Herodíades dançou diante dos convidados. Agradou de tal maneira a Herodes,
que este lhe prometeu com juramento dar-lhe o que ela pedisse.
Instigada pela mãe, ela respondeu: «Dá-me agora mesmo num prato a cabeça de João Baptista».
O rei ficou consternado, mas por causa do juramento e dos convidados, ordenou que lha dessem
e mandou decapitar João no cárcere.
A cabeça foi trazida num prato e entregue à jovem, que a levou a sua mãe.
Os discípulos de João vieram buscar o seu cadáver e deram-lhe sepultura. Depois foram dar a notícia a Jesus.


Livro de Salmos 69(68),15-16.30-31.33-34.


Tirai-me do lamaçal, para que não me afunde,
livrai-me dos que me odeiam e do abismo das águas.
Não me cubram as ondas nem me arraste a voragem,
não se feche sobre mim a boca do abismo.

Eu sou pobre e miserável:
defendei-me com a vossa protecção.
Louvarei com cânticos o nome de Deus
e em acção de graças O glorificarei.

Vós, humildes, olhai e alegrai-vos,
buscai o Senhor e o vosso coração se reanimará.
O Senhor ouve os pobres
e não despreza os cativos.


Livro de Jeremias 26,11-16.24.


Naqueles dias, os sacerdotes e os profetas falaram aos príncipes e à multidão: «Este homem merece a morte porque profetizou contra esta cidade, como todos vós ouvistes.»
Então Jeremias disse aos chefes e a todo o povo: «Foi o Senhor que me enviou a profetizar, contra este templo e contra esta cidade, tudo o que ouvistes.
Portanto, emendai os vossos caminhos e as vossas acções, ouvi a voz do Senhor, vosso Deus, e o Senhor afastará de vós os males com que vos ameaçou.
Quanto a mim, estou nas vossas mãos: tratai-me como vos parecer melhor e mais justo.
Mas ficai sabendo que, se me condenardes à morte, sereis responsáveis pelo sangue de um inocente, vós, esta cidade e os seus habitantes. Na verdade, foi o Senhor que me enviou a vós, para anunciar aos vossos ouvidos todas estas palavras».
Então os chefes e todo o povo disseram aos sacerdotes e aos profetas: «Este homem não merece a morte, porque nos falou em nome do Senhor, nosso Deus».
Jeremias ficou sob a protecção de Aican, filho de Safan, e assim não caiu nas mãos do povo para ser morto.

Santo do Dia

Sabado, dia 30 de Julho de 2016

Sábado da 17ª semana do Tempo Comum

 S. Pedro Crisólogo, bispo, Doutor da Igreja, +450 






São Pedro Crisólogo nasceu em Ímola no ano 380 e mereceu o apelido de Crisólogo, isto é, "Palavra de Ouro", por ser autor de estupendos sermões, ricos de doutrina, que lhe deram também o título de doutor da Igreja, decretado no ano 1729 pelo Papa Bento XIII. Dele se conservam cerca de 200 sermões. Numa homilia define o avarento como "escravo do dinheiro, mas o dinheiro - acrescenta - é o escravo do misericordioso. " É fácil entender o significado desta prédica. Sua pregação colocava insistentemente em evidência o amor paternal de Deus: "Deus prefere ser amado a ser temido". Humildes e poderosos escutava-os ele com igual condescendência e caridade. A imperatriz Gala Placídia teve-o como conselheiro e amigo.

Eleito Bispo de Ravena no ano 424, Pedro Crisólogo mostrou-se bom pastor, prudente e sem ambiguidades doutrinais. Sua autoridade era reconhecida em largo raio da Igreja. São Pedro Crisólogo disse certa vez: "Os que passaram, viveram para nós; nós, para os vindouros; ninguém para si" (op.cit.p.407).

São Pedro Crisólogo morreu no dia 31 de Julho do ano 451, em Ímola. 

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Ansiedade e cansaço


«Quem acredita em Mim, [...] viverá»

Comentário do dia:

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (norte de África), doutor da Igreja
Sermões sobre o Evangelho de João, n.° 49, 15



«Quem acredita em Mim, ainda que tenha morrido, viverá; e todo aquele que vive e acredita em Mim não morrerá para sempre.» Que quer isto dizer? «Quem acredita em Mim, ainda que tenha morrido como Lázaro, viverá», porque Deus não é um Deus de mortos, mas um Deus de vivos. Já a propósito de Abraão, de Isaac e de Jacob, os patriarcas há muito mortos, Jesus tinha dado a mesma resposta aos judeus: «'Eu sou o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob'; não é um Deus de mortos, mas de vivos, porque para Ele todos estão vivos» (Lc 20,38). Por isso, acredita e, ainda que estejas morto, viverás! Mas, se não acreditares, ainda que estejas vivo, na verdade estás morto. [...] De onde vem a morte da alma? Vem do facto de a fé já lá não estar. De onde vem a morte do corpo? Vem do facto de a alma já lá não estar. A alma da tua alma é a fé.

«Quem acredita em Mim, ainda que tenha morrido no seu corpo, terá a vida na sua alma até que o próprio corpo ressuscite para nunca mais morrer. E quem vive na sua carne e acredita em Mim, ainda que tenha de morrer durante algum tempo no seu corpo, não morrerá para a eternidade, devido à vida do Espírito e à imortalidade da ressurreição.»

É isto que Jesus quer dizer na sua resposta a Marta. [...] «Acreditas nisto?» «Sim, Senhor», respondeu ela, «eu creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus que havia de vir ao mundo. E, acreditando nisto, acredito que és a ressurreição, acredito que és a vida, acredito que quem acredita em Ti, ainda que tenha morrido, viverá; acredito que quem está vivo e acredita em Ti não morrerá para sempre.»

Evangelho segundo S. João 11,19-27.


Naquele tempo, muitos judeus tinham ido visitar Marta e Maria, para lhes apresentar condolências pela morte do irmão.
Quando ouviu dizer que Jesus estava a chegar, Marta saiu ao seu encontro, enquanto Maria ficou sentada em casa.
Marta disse a Jesus: «Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido.
Mas sei que, mesmo agora, tudo o que pedires a Deus, Deus To concederá».
Disse-lhe Jesus: «Teu irmão ressuscitará».
Marta respondeu: «Eu sei que há-de ressuscitar na ressurreição do último dia».
Disse-lhe Jesus: «Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em Mim, ainda que tenha morrido, viverá;
e todo aquele que vive e acredita em Mim, não morrerá para sempre. Acreditas nisto?».
Disse-Lhe Marta: «Acredito, Senhor, que Tu és o Messias, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo».

Livro de Salmos 34(33),2-3.4-5.6-7.8-9.10-11.


A toda a hora bendirei o Senhor,
o seu louvor estará sempre na minha boca.
A minha alma gloria-se no Senhor,
escutem e alegrem-se os humildes.

Enaltecei comigo o Senhor
e exaltemos juntos o seu nome.
Procurei o Senhor e Ele atendeu-me,
libertou-me de toda a ansiedade.

Voltai-vos para Ele e ficareis radiantes,
o vosso rosto não se cobrirá de vergonha.
Este pobre clamou e o Senhor o ouviu,
salvou-o de todas as angústias.

O Anjo do Senhor protege os que O temem
e defende-os dos perigos.
Saboreai e vede como o Senhor é bom:
feliz o homem que n’Ele se refugia.

Temei o Senhor, vós os seus fiéis,
porque nada falta aos que O temem.
Os poderosos empobrecem e passam fome,
aos que procuram o Senhor não faltará riqueza alguma.


1ª Carta de S. João 4,7-16.


Caríssimos: Amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus; e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus.
Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor.
Assim se manifestou o amor de Deus para connosco: Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigénito, para que vivamos por Ele.
Nisto consiste o amor: não fomos nós que amámos a Deus, mas foi Ele que nos amou, e enviou o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados.
Caríssimos, se Deus nos amou assim, também nós devemos amar-nos uns aos outros.
Ninguém jamais viu a Deus. Se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós e em nós o seu amor é perfeito.
Nisto conhecemos que estamos n’Ele e Ele em nós: porque nos deu o seu Espírito.
E nós vimos e damos testemunho de que o Pai enviou o seu Filho como Salvador do mundo.
Se alguém confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece nele e ele em Deus.
Nós conhecemos o amor que Deus nos tem e acreditámos no seu amor. Deus é amor: quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus permanece nele.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Vida contra a morte

Então. Queremos que tudo corra bem. Que haja paz e harmonia. Mas, às vezes somos atraídos pelas coisas ruins. É preciso não nos contaminarmos. Não se trata de alienação diante das coisas do mundo, mas a de procurar em nosso dia a dia a busca de equilíbrio, quer seja ouvindo música, lendo um livro, vendo um filme, reunindo com os amigos, indo à igreja ou ao futebol, ao restaurante ou qualquer coisa que nos afaste da dor e da violência. Isso é a busca do reino de Deus. Ter fé nas coisas boas, colocando a vida contra a morte.

Quem crê no Filho tem a vida eterna

Comentário do dia:

Santa Catarina de Sena (1347-1380), terceira dominicana, doutora da Igreja, copadroeira da Europa
Diálogo, cap. 39

«Quem crê no Filho tem a vida eterna; quem se nega a crer no Filho não verá a vida» (Jo 3,36)

[Santa Catarina de Sena ouviu Deus dizer:] No dia do juízo final, quando o Verbo, meu Filho, revestido da minha majestade, vier julgar o mundo com o seu poder divino, não virá como aquele pobre miserável que era quando nasceu do seio da Virgem, num estábulo, no meio dos animais, ou como quando morreu entre dois ladrões. Nessa altura o meu poder estava oculto nele; como homem, deixei-O sofrer penas e tormentos. Não é que a minha natureza divina estivesse separada da sua natureza humana, mas deixei-O sofrer como homem para expiar os vossos pecados. Não, não é assim que Ele virá no momento supremo: Ele virá com todo o seu poder e todo o esplendor da sua própria pessoa. [...]


Aos justos, inspirará um temor respeitoso e, ao mesmo tempo, um grande júbilo. Não é que a sua face mude: a sua face é imutável, em virtude da natureza divina, porque Ele é um comigo; e também é imutável em virtude da natureza humana, uma vez que assumiu a glória da ressurreição. Ele parecerá terrível aos olhos dos condenados, porque os pecadores vê-Lo-ão com o olhar de temor e perturbação que têm dentro de si próprios.

Não é isso que se passa com a visão doente? No sol brilhante vê apenas trevas, enquanto o olho são vê nele a luz. Não é que a luz tenha algum defeito; não é o sol que muda. O defeito está no olho do cego. É assim que os condenados verão o meu Filho: entre trevas, ódio e confusão. Mas será por culpa da sua própria enfermidade e não por causa da minha majestade divina, com a qual o meu Filho aparecerá para julgar o mundo.

Evangelho segundo S. Mateus 13,47-53.


Naquele tempo, disse Jesus à multidão: «O reino dos Céus é semelhante a uma rede que, lançada ao mar, apanha toda a espécie de peixes.
Logo que se enche, puxam-na para a praia e, sentando-se, escolhem os bons para os cestos e o que não presta deitam-no fora.
Assim será no fim do mundo: os Anjos sairão a separar os maus do meio dos justos
e a lançá-los na fornalha ardente. Aí haverá choro e ranger de dentes.
Entendestes tudo isto?». Eles responderam-Lhe: «Entendemos».
Disse-lhes então Jesus: «Por isso, todo o escriba instruído sobre o reino dos Céus é semelhante a um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e coisas velhas».
Quando acabou de proferir estas parábolas, Jesus continuou o seu caminho.

Livro de Salmos 146(145),2abc.2d-4.5-6.


Louva, minha alma, o Senhor.
Louvarei o Senhor toda a minha vida,
cantarei hinos ao meu Deus,
enquanto viver.

Não ponhais a confiança nos poderosos,
no homem que nem a si se pode salvar.
Vai-se-lhe o espírito e volta ao pó da terra
e assim ficam desfeitos os seus planos.

Feliz o que tem por auxílio o Deus de Jacob,
o que põe a sua confiança no Senhor, seu Deus,
que fez o céu e a terra,
o mar e quanto neles existe.

Livro de Jeremias 18,1-6.


Palavra que o Senhor dirigiu ao profeta Jeremias:
«Levanta-te e desce à casa do oleiro; ali te farei ouvir as minhas palavras».
Eu desci à casa do oleiro e encontrei-o a trabalhar na roda.
Quando o vaso que ele estava a moldar não saía bem, como acontece com o barro nas mãos do oleiro, ele começava de novo e fazia outro vaso, como lhe parecia melhor.
Então o Senhor dirigiu-me a palavra, dizendo:
«Não poderei Eu tratar-vos como este oleiro, ó casa de Israel? – diz o Senhor –. Como o barro nas mãos do oleiro, assim estais vós na minha mão, ó casa de Israel».

Santo do dia - 28 de julho

S. Vítor I, papa, +199, Beata Maria Teresa Kowalska, virgem e mártir, +1941 


S. Vítor I, papa, +199

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Vítor I nasceu África. É algo incerta a cronologia deste papa. Alguns, seguindo o historiador Eusébio, fazem-no reinar até o ano 202. Teria morrido mártir na quinta perseguição, que foi movida nesse ano pelo imperador Sétimo Severo, ou então pouco antes, numa sublevação de pagãos. Declarou que água comum, de fonte, de poço, de chuva, do mar, etc... pode, no caso de necessidade, servir para a administração do babtismo. Isto prova que já era costume, em tempo de paz, usar-se a água benta com a celebração do baptismo. Sob S. Vítor a questão da data pascal, de novo agitada, deu mais brilho à supremacia do Bispo de Roma. A Igreja conservara do ritual judaico o uso de se consagrarem a Deus vários dias festivos. O sábado (a festa semanal judaica) foi cedo substituído pelo domingo em memória do dia da Ressurreição do Senhor. As festas hebraicas caíram em desuso, menos Pentecostes e Páscoa. Por esta é que se estabelecia todo o calendário judaico cristão. Na Ásia era a Páscoa celebrada no 14º dia do plenilúnio de março. Em Roma pretendia-se que a festa fosse sempre num domingo. O papa, examinando a opinião das demais Igrejas, fixou a Páscoa para o domingo seguinte ao 13º dia do plenilúnio de março. Mais tarde, 130 anos depois, o memorável Concílio de Nicéia (325) deu plena razão a S. Vítor.

Beata Maria Teresa Kowalska, virgem e mártir, +1941




Nasceu em Varsóvia em 1902. Desconhece-se o nome e a profissão dos seus pais. Recebeu a sua primeira Comunhão no dia 21 de Junho de 1915, e o sacramento da Confirmação no dia 21 de Maio de 1920. O seu pai, simpatizante socialista, foi para a União Soviética na década de 1920 com grande parte da família.

Aos 21 anos, recebe a graça da vocação religiosa. Ingressou no Mosteiro das Clarissas Capuchinhas de Przasnysz no dia 23 de Janeiro de 1923. Tomou o hábito no dia 12 de Agosto de 1923 e recebeu o nome de Maria Teresa do Menino Jesus. Emitiu a sua primeira profissão no dia 15 de Agosto de 1924 e a profissão perpétua no dia 26 de Julho de 1928.

Era uma pessoa delicada e doente, mas disponível para todos e para tudo. No Mosteiro servia a Deus com devoção e piedade. Com o seu modo de ser conquistava o carinho de todos, diz uma das irmãs. Gozava de grande respeito e consideração por parte das superioras e das outras irmãs. Exerceu vários ofícios: porteira, sacristã, bibliotecária; Mestra de noviças e Conselheira. Maria Teresa vive a sua vida religiosa em silêncio, totalmente dedicada a Deus, com grande entusiasmo. Um dia este serviço a Deus foi posto a dura prova.

No dia 2 de Abril de 1941, os alemães irromperam no Mosteiro e prenderam todas as irmãs, levando-as para o Campo de concentração de Dzialdowo. Entre elas estava a Irmã Maria Teresa, doente com tuberculose. As 36 irmãs ficaram presas no mesmo local e suportaram umas condições de vida que ofendiam a dignidade humana: ambiente sujo, fome terrível, terror contínuo. As irmãs observavam com horror a tortura a que eram submetidas outras pessoas ao mesmo tempo, entre as quais se encontravam o Bispo de Plock, A. Nowowiejski e L. Wetmanski, e muitos outros sacerdotes. Depois de passar um mês naquelas condições de vida, a saúde das irmãs debilitou-se. A Irmã Maria Teresa foi uma das que mais se ressentiu, que pelo menos se mantinha de pé.

Sobreveio-lhe uma hemorragia pulmonar. Faltava não só o serviço médico mas também a água para matar a sede e para a higiene. Suportou o sofrimento com coragem e, até onde lhe foi possível, rezou junto com as restantes irmãs. Outras vezes rezava ela sozinha. Durante a prova, e consciente da proximidade da morte, dizia: “Eu, daqui, não sairei; entrego a minha vida para que as irmãs possam regressar ao Mosteiro”. Isso mesmo dizia à abadessa: “Madre, ainda falta muito?”. Morreu na noite de 25 de Julho de 1941. Desconhece-se o paradeiro dos seus restos mortais.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

O Senhor me escutou

O Senhor não foi surdo aos meus apelos. Ele com zelo tomou para si a minha causa e os efeitos de sua ação já se fazem presente e certamente a vitória não tardará. E ela será muito mais completa do que eu supunha ou poderia imaginar. Porque, quando o meu Deus age, maravilhas acontecem e o agir é correspondente à minha fé. E a minha fé é miseravelmente pequena como um simples grão de areia.
Mas, não é nessa pequenez que também começa a nossa vida?

«O reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido num campo»

Comentário do dia:

São Máximo, o Confessor (c. 580-662), monge, teólogo
Centúrias sobre o amor, 4, 69 ss.



Há quem pense que não tem qualquer participação nos dons do Espírito Santo. Devido à sua negligência em levar à prática os mandamentos, essas pessoas não sabem que quem mantém inalterada a fé em Cristo reúne em si mesmo todos os dons divinos. É natural que quando, por inércia, nos encontramos longe do amor ativo que devíamos ter a Deus – esse amor que nos mostra os tesouros de Deus escondidos em nós –, pensemos que não estamos a participar nos dons divinos.

Com efeito, se «Cristo habita pela fé nos nossos corações», segundo o apóstolo Paulo (Ef 3, 17), e se nele «estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência» (Col 2, 3), todos esses tesouros da sabedoria e da ciência estão escondidos nos nossos corações. Mas revelam-se ao coração na medida da purificação de cada um, dessa purificação que os mandamentos suscitam. Tal é o tesouro escondido no campo do teu coração, que ainda não encontraste, devido à tua preguiça. Porque, se o tivesses encontrado, terias vendido tudo, para adquirir esse campo. Mas agora abandonaste o campo e procuras em seu redor, onde apenas existem espinhos e silvas. É por isso que o Salvador afirma: “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5, 8). Vê-Lo-ão e verão os tesouros que estão nele, quando se tiverem purificado, pelo amor e pela temperança. E vê-Lo-ão tanto mais, quanto mais se tiverem purificado. 

Evangelho segundo S. Mateus 13,44-46.


Naquele tempo, disse Jesus à multidão: «O reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido num campo. O homem que o encontrou tornou a escondê-lo e ficou tão contente que foi vender tudo quanto possuía e comprou aquele campo.
O reino dos Céus é semelhante a um negociante que procura pérolas preciosas.
Ao encontrar uma de grande valor, foi vender tudo quanto possuía e comprou essa pérola».


Da Bíblia Sagrada - Edição dos Franciscanos Capuchinhos -www.capuchinhos.org

Livro de Salmos 59(58),2-3.4-5a.10-11.17.18.


Meu Deus, livrai-me dos inimigos,
protegei-me contra os meus agressores.
Defendei-me dos que praticam a iniquidade,
salvai-me dos homens sanguinários.
Armam ciladas para me tirar a vida,
conspiram contra mim homens poderosos.

Senhor, em mim não há crime nem pecado,
sem culpa minha correm a atacar-me.
Senhor, minha força, é para Vós que eu me volto,
sois Vós, ó Deus, o meu refúgio.
A bondade do meu Deus venha em meu auxílio
e me faça ver a derrota dos meus inimigos.

Eu cantarei, Senhor, a força do vosso poder,
de manhã louvarei a vossa bondade,
porque sois a minha fortaleza,
o meu refúgio no dia da tribulação.
porque foste o meu amparo
e o meu refúgio no dia da tribulação.

Livro de Jeremias 15,10.16-21.


Como sou infeliz, minha mãe! Porque me trouxestes ao mundo? Sou um homem contestado e perseguido em toda a terra! Ninguém me deve e eu não devo nada a ninguém; e no entanto sou amaldiçoado por todos.
Quando apareciam as vossas palavras, Senhor, eu tomava-as como alimento. A vossa palavra era o encanto e a alegria do meu coração, porque sobre mim foi invocado o vosso nome, Senhor, Deus do Universo.
Nunca me sentei com os folgazões para me divertir; sob o peso da vossa mão sentei-me solitário, porque a vossa indignação enchia a minha alma.
Porque não tem fim a minha dor, porque não tem cura a minha ferida? Vós sois para mim como o ribeiro enganador, em cujas águas não se pode confiar.
Então o Senhor falou-me, dizendo: «Se quiseres voltar, Eu farei que voltes, para estares na minha presença. Se separares o metal das impurezas, tu serás como a minha boca. São eles que virão ter contigo e não tu a ir ao seu encontro.
Farei de ti para este povo uma forte muralha de bronze: lutarão contra ti, mas não poderão vencer-te, porque Eu estou contigo para te proteger e salvar.
Eu te livrarei das mãos dos malvados, Eu te salvarei do poder dos violentos».

Santo do dia

Santa Natália e companheiros, mártires, +852, S. Pantaleão, mártir, séc. III, S. Celestino I, +432 

Quarta-feira, dia 27 de Julho de 2016

Santa Natália e companheiros, mártires, +852




Estes santos sofreram o martírio durante a perseguição muçulmana, em 852. Natália, ou Sabagota, como era chamada, havia-se convertido à fé cristã juntamente com o marido, Aurélio. Félix e Liliana eram seus parentes. Todos viviam a fé na clandestinidade até que foram descobertos e presos. Contam que, certo dia, S. Aurélio presenciou um espectáculo humilhante em que um cristão amarrado a um jumento, com a cara voltada para a causa do animal, era conduzido debaixo de grande gritaria ao lugar da execução. A partir daquele momento, professou abertamente sua fé. Pressentindo que chegava a sua hora, distribuiu os bens aos pobres e necessitados. Félix e Liliana fizeram o mesmo. Presos, bem como Jorge, que era monge, foram todos condenados à morte.


S. Pantaleão, mártir, séc. III



Médico, natural de Nicomédia da Bitínia (actual Turquia), converteu-se ao Cristianismo em plena perseguição do imperador Maximiano. Um sacerdote tinha-o persuadido da divindade de Cristo e ele, para o comprovar, ordenou a uma criança morta por uma víbora: "Em nome de Jesus Cristo, levanta-te!" E a criança foi ressuscitada.

O imperador mandou que se lhe aplicasse toda a espécie de tormentos.

Consta que cristãos arménios teriam trazido o corpo de S. Pantaleão para o Porto no século XV. Durante muitos anos, foi o padroeiro daquele cidade.

cf. Pe. José Leite, S.J.

S. Celestino I, +432





S. Celestino I
Foi um romano, mas pouca coisa sabemos sobre sua vida, apenas que o nome do seu pai era Priscus e que viveu com Santo Ambrósio, em Milão. 
Várias partes da liturgia são atribuídas a ele, mas sem nenhuma certeza. Ainda que não tenha comparecido pessoalmente, ele enviou delegados ao 1º Comcílio de Éfeso, em 431 d.C. Quatro cartas escritas por ele nesta ocasião ainda existem, todas datadas de 15 de março de 431, além de algumas outras, para os bispos africanos e europeus, que sobrevivem em traduções gragas, tendo-se perdido os originais em latim. Além disso, sabe-se que enviou missionários para a irlanda.
São Celestino morreu dia 27 de Julho de 432. É com este Papa que, pela primeira vez, se cita o "bastão pastoral".
 


segunda-feira, 25 de julho de 2016

«Bebereis do meu cálice»

Comentário do dia:

São Gregório Magno (c. 540-604), papa, doutor da Igreja
Homilias sobre os Evangelhos, n.º 35



Uma vez que hoje celebramos a festa dum mártir, irmãos, devemos preocupar-nos com a forma de paciência praticada por ele. Com efeito, se, com a ajuda do Senhor, nos esforçarmos por manter essa virtude, obteremos sem dúvida a palma do martírio, ainda que vivamos na paz da Igreja. Porque há dois tipos de martírio: o primeiro consiste numa disposição do espírito; o segundo alia a essa disposição os atos da existência. Por isso, podemos ser mártires mesmo sem morrermos executados pelo gládio do carrasco. Morrer às mãos dos perseguidores é o martírio em ato, na sua forma visível; suportar as injúrias amando quem nos odeia é o martírio em espírito, na sua forma oculta.

Que haja dois tipos de martírio, um oculto, o outro público, a própria Verdade o comprova quando pergunta aos filhos de Zebedeu: «Podeis beber o cálice que Eu hei-de beber?» E à sua asserção, «Podemos», o Senhor riposta: «Bebereis do meu cálice.» Ora, que pode significar para nós este cálice, senão os sofrimentos da sua Paixão, da qual diz noutro sítio: «Pai, se é possível, afasta de Mim este cálice» (Mt 26,39)? Os filhos de Zebedeu, Tiago e João, não morreram ambos mártires, mas foi a ambos que o Senhor disse que haviam de beber esse cálice. De facto, se bem que não viesse a morrer mártir, João acabou todavia por sê-lo, já que os sofrimentos que não sentiu no corpo os sentiu na alma. Devemos então concluir do seu exemplo que nós próprios podemos ser mártires sem passar pela espada, se conservarmos a paciência da alma.

Evangelho segundo S. Mateus 20,20-28.


Naquele tempo, a mãe dos filhos de Zebedeu aproximou-se de Jesus com os filhos e prostrou-se para Lhe fazer um pedido.
Jesus perguntou-lhe: «Que queres?». Ela disse-Lhe: «Ordena que estes meus dois filhos se sentem no teu reino um à tua direita e outro à tua esquerda».
Jesus respondeu: «Não sabeis o que estais a pedir. Podeis beber o cálice que Eu hei-de beber?». Eles disseram: «Podemos».
Então Jesus declarou-lhes: «Bebereis do meu cálice. Mas sentar-se à minha direita e à minha esquerda não pertence a Mim concedê-lo; é para aqueles a quem meu Pai o designou».
Os outros dez, que tinham escutado, indignaram-se com os dois irmãos.
Mas Jesus chamou-os e disse-lhes: «Sabeis que os chefes das nações exercem domínio sobre elas e os grandes fazem sentir sobre elas o seu poder.
Não deve ser assim entre vós. Quem entre vós quiser tornar-se grande seja vosso servo
e quem entre vós quiser ser o primeiro seja vosso escravo.
Será como o filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida pela redenção dos homens».

Livro de Salmos 126(125),1-2ab.2cd-3.4-5.6.


Quando o Senhor fez regressar os cativos de Sião,
parecia-nos viver um sonho.
Da nossa boca brotavam expressões de alegria
e de nossos lábios cânticos de júbilo.

Diziam então os pagãos:
«O Senhor fez por eles grandes coisas».
Sim, grandes coisas fez por nós o Senhor,
estamos exultantes de alegria.

Fazei regressar, Senhor, os nossos cativos,
como as torrentes do deserto.
Os que semeiam em lágrimas
recolhem com alegria.

À ida, vão a chorar,
levando as sementes;
à volta, vêm a cantar,
trazendo os molhos de espigas.

2ª Carta aos Coríntios 4,7-15.


Irmãos: Nós trazemos em vasos de barro o tesouro do nosso ministério, para que se reconheça que um poder tão sublime vem de Deus e não de nós.
Em tudo somos oprimidos, mas não esmagados; andamos perplexos, mas não desesperados;
perseguidos, mas não abandonados; abatidos, mas não aniquilados.
Levamos sempre e em toda a parte no nosso corpo os sofrimentos da morte de Jesus, a fim de que se manifeste também no nosso corpo a vida de Jesus.
Porque, estando ainda vivos, somos constantemente entregues à morte por causa de Jesus, para que se manifeste também na nossa carne mortal a vida de Jesus.
E assim, a morte atua em nós e a vida em vós.
Diz a Escritura: «Acreditei; por isso falei». Com este mesmo espírito de fé, também nós acreditamos, e por isso falamos, sabendo que
Aquele que ressuscitou o Senhor Jesus também nos há de ressuscitar com Jesus e nos levará convosco para junto d’Ele.
Tudo isto é por vossa causa, para que uma graça mais abundante multiplique as ações de graças de um maior número de cristãos para glória de Deus

Santo do Dia

Segunda-feira, dia 25 de Julho de 2016

S. Tiago, apóstolo – Festa


Santo do dia : S. Tiago Maior, apóstolo, mártirS. Cristóvão, mártir, séc. III


S. Tiago Maior, apóstolo, mártir





S. Tiago


Tiago (o Maior), filho de Zebedeu e de Salomé, era irmão do evangelista São João. Seu pai estava presente quando os dois irmãos, dentro de em um barco no lago de Genesaré, receberam o pedido de Jesus para O acompanharem: “eles, abandonaram o barco e seu pai e seguiram-nO,” demonstrando vontade decidida e índole forte. Talvez por isso, receberam de Jesus o apelido de “filhos do trovão”.

Como os outros discípulos, Tiago foi perseguido pelas autoridades judaicas e preso. No seu cárcere, sofreu todo tipo de tortura e flagelo. Mesmo assim, sentia muito orgulho de estar sendo torturado por amor a Jesus.

Segundo uma tradição, o apóstolo Tiago teria sido o primeiro evangelizador da Espanha e as suas relíquias teriam sido levadas para Compostela, uma das metas mais procuradas pelos peregrinos na Europa.




S. Cristóvão, mártir, séc. III





S. Cristóvão
Seu nome significa “portador de Cristo”.
A vida deste santo está envolta em muitas lendas, de tal ponto que é difícil saber-se qual a verdade da sua vida. Saba-se que foi mártir, morreu na cidade de Lícia, no Sul da Turquia, durante a perseguição do Imperador Décio.
Conta uma lenda muito propalada que, quando era ainda jovem forte, Cristóvão escutou a prática de um eremita e recebeu a instrução da fé cristã. Para se preparar para o batismo, decidiu morar perto de um rio e ajudar os viajantes a passar a correnteza das águas que, às vezes, era muito forte.
Uma noite, uma criança veio despertá-lo, suplicando-lhe ajuda para atravessar o rio. Levando o menino em seus ombros, estranhou o peso que levava, que aumentou tanto que, só com grande esforço, chegou ao outro lado do rio, onde o menino, que era o Menino Jesus, disse que Cristóvão um dia seria Mártir.
Depois de haver recebido o batismo, São Cristóvão dirigiu-se à cidade de Lícia para pregar ali o Evangelho. Foi martirizado naquela cidade. Flechas perfuraram o seu corpo e depois foi decapitado.
São Cristóvão foi sempre muito invocado e venerado. Na Idade Média esta veneração foi muito praticada. Ele é o protetor poderoso dos viajantes que enfrentam perigos no caminho.Também é o padroeiro dos carteiros e dos pilotos.

sábado, 23 de julho de 2016

Evangelho segundo S. Marcos 3,31-35.


Naquele tempo, chegaram à casa onde estava Jesus, sua Mãe e seus irmãos, que, ficando fora, O mandaram chamar.
A multidão estava sentada em volta d’Ele, quando Lhe disseram: «Tua Mãe e teus irmãos estão lá fora à tua procura».
Mas Jesus respondeu-lhes: «Quem é minha Mãe e meus irmãos?».
Quem fizer a vontade de Deus esse é meu irmão, minha irmã e minha Mãe».
Quem fizer a vontade de Deus esse é meu irmão, minha irmã e minha Mãe».

Livro de Salmos 84(83),3.4.5-6a.8a.11.


A minha alma suspira ansiosamente
pelos átrios do Senhor.
O meu ser e a minha carne
exultam no Deus vivo.

Até as aves do céu encontram abrigo
e as andorinhas um ninho para os seus filhos,
junto dos vossos altares, Senhor dos Exércitos,
meu Rei e meu Deus.

Felizes os que moram em vossa casa:
podem louvar-Vos continuamente.
Felizes os que em Vós encontram a sua força,
os que caminham para ver a Deus em Sião.

Um dia em vossos átrios
vale por mais de mil longe de Vós.
Antes quero ficar no vestíbulo da casa do meu Deus,
do que habitar nas tendas dos pecadores.

Livro de Jeremias 7,1-11.


Palavra que o Senhor dirigiu ao profeta Jeremias:
«Vai à entrada do templo do Senhor e proclama ali a seguinte mensagem: Escutai a palavra do Senhor, vós todos, homens de Judá, que entrais por estas portas para adorar o Senhor.
Assim fala o Senhor do Universo, o Deus de Israel: Emendai os vossos caminhos e as vossas acções e Eu vos deixarei habitar neste lugar.
Não vos fieis em palavras enganadoras, dizendo: ‘É o templo do Senhor, o templo do Senhor, o templo do Senhor!’.
Mas se endireitardes os vossos caminhos e corrigirdes as vossas obras, se praticardes a justiça uns para com os outros,
se não oprimirdes o estrangeiro, o órfão e a viúva, se não derramardes neste lugar sangue inocente, se não seguirdes outros deuses para vossa desgraça,
então vos deixarei habitar neste lugar, na terra que dei a vossos pais desde há muito e para sempre.
Mas vós fiais-vos em palavras enganadoras que para nada servem.
Assim podeis roubar, matar, cometer adultério, jurar falso, queimar incenso a Baal, seguir deuses estrangeiros que não conheceis.
Depois vindes aqui apresentar-vos diante de Mim, nesta casa em que é invocado o meu nome, e dizeis: ‘Estamos salvos’, para voltar a cometer todas essas abominações.
Será porventura um covil de salteadores esta casa onde é invocado o meu nome? Eu também vi tudo isto».

Comentário do dia



São João Paulo II (1920-2005), papa
Carta apostólica «Spes Aedificandi», de 02/10/1999 (© copyright Libreria Editrice Vaticana)


Santa Brígida da Suécia, co-padroeira da Europa

A fé cristã deu forma à cultura do continente europeu e combinou-se de forma inextricável com a sua história, a ponto de esta ser incompreensível sem uma referência aos acontecimentos que caracterizaram, primeiro o grande período da evangelização, depois os longos séculos no decurso dos quais o cristianismo se afirmou, apesar da dolorosa divisão entre o Oriente e o Ocidente, como a religião dos europeus. [...]

O caminho em direção ao futuro não pode deixar de ter em conta este facto; os cristãos são chamados a ter dele uma consciência renovada, a fim de darem conta das suas permanentes potencialidades. Têm o dever de dar à construção da Europa um contributo específico, que terá tanto mais valor e eficácia quanto souberem renovar-se à luz do Evangelho. Serão então os continuadores desta longa história de milénios, em que os santos oficialmente reconhecidos mais não são do que cumes propostos como modelos para todos. Há, com efeito, inúmeros cristãos que, pela sua vida reta e honesta, animada pelo amor a Deus e ao próximo, alcançaram, nas mais diversas vocações consagradas e laicas, uma santidade verdadeira e largamente difundida, ainda que se mantivesse oculta. A Igreja não duvida de que este tesouro de santidade é precisamente o segredo do seu passado e a esperança do seu futuro. [...]

Foi por isso que, completando aquilo que fiz quando declarei padroeiros da Europa, a par de São Bento, dois santos do primeiro milénio, os irmãos Cirilo e Metódio, pioneiros da evangelização do Oriente, pensei agora completar o cortejo dos padroeiros celestiais com três figuras igualmente emblemáticas de momentos cruciais deste segundo milénio que chega agora ao fim: Santa Brígida da Suécia, Santa Catarina de Sena, Santa Teresa Benedita da Cruz. Três grandes santas, três mulheres que, em três épocas diferentes - duas em plena Idade Média, uma no nosso século -, se evidenciaram pelo seu amor ativo à Igreja de Cristo e pelo testemunho prestado à sua cruz.

Santo do Dia

Sabado, dia 23 de Julho de 2016


Santa Brígida, religiosa, patrona da Europa, +1373







Nasceu em Finstad, perto de Upsala, na Suécia, em 1303, e morreu em Roma, em 1373. Foi contemporânea de Santa Catarina de Sena.



Aos 13 anos, em 1316, casou-se com o príncipe de Nreícia, Wulfom. Foram pais de oito filhos, entre eles uma santa: Catarina. Fundaram um hospital e eles próprios (Santa Brígida e seu marido), cuidavam dos doentes.

Em 1344, ficou viúva e recolheu-se num mosteiro. Em 1346, fundou um mosteiro em Vadstena. Levava vida austera, chegando a mendigar às portas das igrejas. Uns dez anos antes de morrer, fundou a Ordem de São Salvador (brigidinas), da qual, mais tarde, sua filha, Santa Catarina da Suécia, viria a ser a prioresa. Em 1372, partiu em companhia da filha, Catarina, e de dois filhos, para a Terra Santa.

Foi uma grande mística, cujas experiências de Deus, suas Revelações, publicadas em livro, são a maior prova de seu profundo amor a Jesus e da solidez de sua espiritualidade. Brígida é uma das místicas mais conhecidas nos séculos XIV e XV.

Com Santa Catarina de Sena e Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein), foi proclamada por João Paulo II como patrona da Europa.





sexta-feira, 15 de julho de 2016

SÁBADO


«O Filho do Homem é senhor do sábado.»

Comentário do dia:

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (norte de África), doutor da Igreja
Confissões



Senhor Deus, Tu que nos cumulaste de tudo, dá-nos a paz (Is 26,12), a paz do repouso, a paz do sábado, do sábado que não tem ocaso. Porque esta bela ordem das coisas que criaste, e que são «muito boas» (Gn 1,31), passará quando tiver chegado ao termo do seu destino. Sim, elas tiveram a sua manhã e terão a sua tarde. Mas o sétimo dia não tem tarde, não tem ocaso, porque Tu o santificaste a fim de que ele dure para sempre. No termo das tuas obras «muito boas», que contudo fizeste em repouso, Tu repousaste ao sétimo dia, a fim de nos fazeres compreender que, no termo das nossas obras, que são muito boas porque foste Tu que no-las deste (Is 26,12), também nós repousaremos em Ti, no sábado da vida eterna. Então repousarás em nós como agora ages em nós; desse modo, o repouso que experimentaremos será o teu, tal como as obras que fazemos são as tuas.

Tu, Senhor, trabalhas constantemente e estás constantemente em repouso. […] Quanto a nós, chega um momento em que somos levados a fazer o bem, depois de o nosso coração o ter concebido pelo teu Espírito, enquanto anteriormente éramos levados a fazer o mal, quando Te abandonávamos. Tu, único Deus bom, nunca deixaste de fazer o bem. Algumas das nossas obras são boas – pela tua graça, é certo –, mas não são eternas; depois de as fazermos, esperamos repousar na tua inefável santificação. Mas Tu, bem que não precisa de nenhum outro bem, Tu estás constantemente em repouso, porque Tu próprio és o teu repouso.

Quem, de entre os homens, poderá dar a conhecer tudo isto ao homem? Que anjo o dará a conhecer aos anjos? Que anjo ao homem? É a Ti que devemos pedir esse conhecimento, em Ti que devemos procurá-lo, à tua porta que devemos bater. E dessa maneira sim, dessa maneira recebê-lo-emos, dessa maneira encontrá-lo-emos, dessa maneira abrir-se-á a tua porta (Mt 7,8).

Evangelho segundo S. Mateus 12,1-8.


Naquele tempo, Jesus passou através das searas em dia de sábado e os discípulos, sentindo fome, começaram a apanhar e a comer espigas.
Os fariseus viram e disseram a Jesus: «Vê como os teus discípulos estão a fazer o que não é permitido ao sábado».
Jesus respondeu-lhes: «Não lestes o que fez David, quando ele e os seus companheiros sentiram fome?
Entrou na casa de Deus e comeu dos pães da proposição, que não era permitido comer, nem a ele nem aos seus companheiros, mas somente aos sacerdotes.
Também não lestes na Lei que, ao sábado, no templo, os sacerdotes violam o repouso sabático e ficam isentos de culpa?
Eu vos digo que está aqui alguém que é maior que o templo.
Se soubésseis o que significa: ‘Eu quero misericórdia e não sacrifício’, não condenaríeis os que não têm culpa.
Porque o Filho do homem é Senhor do sábado».

Livro de Isaías 38,10.11.12abcd.16.


Eu disse: «Em meio da vida vou descer às portas da morte, privado do resto dos meus anos.
Não verei mais o Senhor na terra dos vivos,
não verei mais ninguém entre os habitantes do mundo».
Para longe de mim foi arrancada a minha morada,

como tenda de pastores.
Como tecelão eu tecia a minha vida,
mas cortaram-me a trama.
Por Vós, Senhor, viverá o meu espírito

Livro de Isaías 38,1-6.21-22.7-8.


Naqueles dias, Ezequias, rei de Judá, contraiu doença mortal. O profeta Isaías, filho de Amós, foi visitá-lo e disse-lhe: «Assim fala o Senhor: Põe em ordem a tua casa, porque vais morrer e não viverás».
Ezequias voltou o rosto para a parede e orou ao Senhor, dizendo:
« Lembrai-Vos, Senhor, como tenho procedido fielmente e de coração sincero na vossa presença, como tenho feito sempre o que agrada aos vossos olhos». Depois, Ezequias rompeu num grande choro.
Então a palavra do Senhor foi dirigida a Isaías, com esta mensagem:
«Vai dizer a Ezequias: Assim fala o Senhor, Deus de teu pai David: Escutei a tua prece e vi as tuas lágrimas. Vou acrescentar à tua vida mais quinze anos
e hei-de livrar-te das mãos do rei da Assíria, a ti e a esta cidade, que Eu protegerei».
Disse então Isaías: «Trazei um bolo de figos, aplicai-o sobre a chaga e o rei ficará curado».
Ezequias perguntou: «Que sinal terei de que volto a subir ao templo do Senhor?».
Isaías respondeu-lhe: «O sinal da parte do Senhor de que cumprirá a sua palavra é este:
Vou fazer que a sombra do relógio de sol de Acaz volte para trás dez graus, que nele tinha avançado». E o sol desandou dez graus que avançara no quadrante.

15 de julho - Santo do Dia


S. Boaventura, bispo, Doutor da Igreja, +1274




Queridos irmãos e irmãs:
Hoje, eu gostaria de falar de São Boaventura de Bagnoregio. Confesso que, ao propor-vos este tema, sinto certa nostalgia, porque me lembro das pesquisas, que fiz, como jovem estudante, precisamente sobre este autor, particularmente querido para mim. Seu conhecimento incidiu muito em minha formação. Com muita alegria, há poucos meses, peregrinei ao lugar do seu nascimento, Bagnoregio, uma pequena cidade italiana, no Lácio, que custodia com veneração sua memória.
Nascido provavelmente em 1217 e falecido em 1274, ele viveu no século XIII, uma época em que a fé cristã, penetrada profundamente na cultura e na sociedade da Europa, inspirou obras imperecíveis no campo da literatura, das artes visuais, da filosofia e da teologia. Entre as grandes figuras cristãs que contribuíram para a composição desta harmonia entre fé e cultura, destaca-se precisamente Boaventura, homem de ação e de contemplação, de profunda piedade e de prudência no governo.
Ele se chamava Giovanni da Fidanza. Um episódio que ocorreu quando ele ainda era menino marcou profundamente sua vida, como ele mesmo relata. Ele tinha contraído uma grave doença e nem sequer seu pai, que era médico, esperava salvá-lo da morte. Sua mãe, então, recorreu à intercessão de São Francisco de Assis, canonizado há pouco. E Giovanni foi curado. A figura do Pobrezinho de Assis se tornou ainda mais familiar para ele alguns anos depois, quando se encontrava em Paris, por razões de estudo. Havia obtido o diploma de Professor de Artes, que poderíamos comparar ao de um prestigioso Liceu da nossa época. Nesse ponto, como tantos jovens do passado e também de hoje, Giovanni se fez uma pergunta crucial: “O que vou fazer com a minha vida?”.
Fascinado pelo testemunho de fervor e radicalidade evangélica dos Frades Menores, que haviam chegado a Paris em 1219, Giovanni bateu à porta do convento franciscano dessa cidade e pediu para ser acolhido na grande família dos discípulos de São Francisco.
Muitos anos depois, explicou as razões da sua escolha: em São Francisco e no movimento iniciado por ele, reconheceu a ação de Cristo. De fato, escreveu em uma carta dirigida a outro religioso: “Confesso diante de Deus que a razão que me fez amar mais a vida do beato Francisco é que se parece com o início e com o crescimento da Igreja. A Igreja começou com simples pescadores e se enriqueceu imediatamente com doutores muito ilustres e sábios; a religião do beato Francisco não foi estabelecida pela prudência dos homens, mas por Cristo” (Epistula de tribus quaestionibus ad magistrum innominatum, em Opere di San Bonaventura. Introduzione generale, Roma 1990, p. 29).
Portanto, por volta de 1243, Giovanni vestiu o hábito franciscano e assumiu o nome de Boaventura. Foi imediatamente dirigido aos estudos e frequentou a Faculdade de Teologia da Universidade de Paris, seguindo um conjunto de cursos muito difíceis. Recebeu os diversos títulos requeridos pela carreira acadêmica, os de “bacharel bíblico” e o de “bacharel sentenciário”. Assim, Boaventura estudou profundamente a Sagrada Escritura, as Sentenças de Pietro Lombardo, o manual de teologia daquela época e os mais importantes autores de teologia; e, em contato com os professores e estudantes que chegavam a Paris de toda a Europa, amadureceu sua própria reflexão pessoal e uma sensibilidade espiritual de grande valor que, no decorrer dos seguintes anos, ele soube mostrar em suas obras e sermões, convertendo-se, assim, em um dos teólogos mais importantes da história da Igreja. É significativo recordar o título da tese que ele defendeu para recebera habilitação no ensino da teologia, a licentia ubique docendi, como se dizia na época. Sua dissertação intitulava-se “Questões sobre o conhecimento de Cristo”. Este tema mostra o papel central que Cristo teve sempre na vida e nos ensinamentos de Boaventura. Podemos dizer sem hesitar que todo o seu pensamento foi profundamente cristocêntrico.
Naqueles anos, em Paris, a cidade adotiva de Boaventura, começou uma violenta polêmica contra os Frades Menores de São Francisco de Assis e os Frades Pregadores de São Domingos de Gusmão. Discutia-se seu direito de lecionar na Universidade e se duvidava inclusive da autenticidade da sua vida consagrada. Certamente, as mudanças introduzidas pelas Ordens Mendicantes na forma de entender a vida religiosa, das quais falei nas catequeses anteriores, eram tão inovadoras que nem todos chegavam a compreendê-las. Acrescentavam-se também, como às vezes acontece entre pessoas sinceramente religiosas, motivos de fraqueza humana, como a inveja e o ciúme.
Boaventura, ainda que cercado pela oposição dos demais professores universitários, já havia começado a lecionar na cátedra de teologia dos Franciscanos e, para responder àqueles que criticavam as Ordens Mendicantes, compôs um escrito intitulado “A perfeição evangélica”. Nele, demonstra como as Ordens Mendicantes, especialmente os Frades Menores, praticando os votos de pobreza, castidade e obediência, seguiam os conselhos do próprio Evangelho. Muito além destas circunstâncias históricas, o ensinamento proporcionado por Boaventura nesta obra e em sua vida permanece sempre atual: A Igreja se torna luminosa e bela pela fidelidade à vocação desses filhos seus e dessas filhas suas que não somente colocam em prática os preceitos evangélicos, mas que, por graça de Deus, estão chamados a observar seus conselhos e, assim, dão testemunho, com seu estilo de vida pobre, casto e obediente, de que o Evangelho é fonte de alegria e de perfeição.
O conflito se apaziguou, pelo menos por certo tempo e, por intervenção pessoal do Papa Alexandre IV, em 1257, Boaventura foi reconhecido oficialmente como doutor e professor da universidade parisiense. Contudo, teve de renunciar a este prestigioso cargo, porque nesse mesmo ano o capítulo geral da ordem o elegeu como ministro geral.
Ele desempenhou este cargo durante 17 anos, com sabedoria e dedicação, visitando as províncias, escrevendo aos irmãos, intervindo às vezes com certa severidade para eliminar os abusos. Quando Boaventura começou este serviço, a Ordem dos Frades Menores havia se desenvolvido de maneira prodigiosa: eram mais de 30 mil os frades dispersos em todo o Ocidente, com presenças missionárias no norte da África, no Oriente Médio e também em Pequim. Era preciso consolidar esta expansão e sobretudo conferir-lhe, em plena fidelidade ao carisma de Francisco, unidade de ação e de espírito.
De fato, entre os seguidores do santo de Assis, registravam-se diversas formas de interpretar sua mensagem e existia realmente o risco de uma fratura interna. Para evitar esse perigo, o capítulo geral da ordem em Narbona, em 1260, aceitou e ratificou um texto proposto por Boaventura, no qual se unificavam as normas que regulavam a vida cotidiana dos Frades Menores. Boaventura intuía, contudo, que as disposições legislativas, ainda inspiradas na sabedoria e na moderação, não eram suficientes para garantir a comunhão do espírito e dos corações. Era necessário compartilhar os mesmos ideais e as mesmas motivações. Por esta razão, Boaventura quis apresentar o autêntico carisma de Francisco, sua vida e seus ensinamentos. Por isso, recolheu com grande zelo documentos relativos ao Pobrezinho e escutou com atenção as lembranças daqueles que haviam conhecido diretamente Francisco. Daí nasceu uma biografia, historicamente bem fundada, do Santo de Assis, intitulada Legenda Maior, redigida também de maneira mais sucinta e chamada, por isso, de Legenda Minor. A palavra latina, ao contrário da italiana (e também do termo em português, “lenda”, N. do T.), não indica um fruto da fantasia, mas, pelo contrário, legenda significa um texto autorizado, a “ser lido” oficialmente. De fato, o capítulo geral dos Frades Menores, em 1263, reunido em Pisa, reconheceu na biografia de São Boaventura o retrato mais fiel do fundador e esta se converteu, assim, na biografia oficial do Santo.
Qual é a imagem de São Francisco que surge do coração e da caneta do seu filho devoto e sucessor, São Boaventura? O ponto essencial: Francisco é um alter Christus, um homem que buscou Cristo apaixonadamente. No amor que conduz à imitação, ele se conformou inteiramente com Ele. Este ideal, válido para todo cristão, ontem, hoje e sempre, foi indicado como programa também para a Igreja do terceiro milênio pelo meu predecessor, o venerável João Paulo II. Este programa, escrevia na carta Tertio Millennio ineunte, centra-se “no próprio Cristo, que temos de conhecer, amar, imitar, para n’Ele viver a vida trinitária e com Ele transformar a história até sua plenitude na Jerusalém celeste” (n. 29).
Em 1273, a vida de São Boaventura teve outra mudança. O Papa Gregório X quis consagrá-lo bispo e nomeá-lo como cardeal. Pediu-lhe também que preparasse um importantíssimo acontecimento eclesial: o II Concílio Ecumênico de Lion, que tinha como objetivo o restabelecimento da comunhão entre a Igreja latina e a grega. Ele se dedicou a esta tarefa com diligência, mas não chegou a ver a conclusão daquela cúpula ecumênica, porque morreu durante sua realização. Um anônimo notário pontifício compôs um elogio a Boaventura, que nos oferece um retrato conclusivo deste grande santo e excelente teólogo: “Homem bom, afável, piedoso e misericordioso, repleto de virtudes, amado por Deus e pelos homens (...). Deus, de fato, havia lhe dado tal graça, que todos aqueles que o viam eram invadidos por um amor que o coração não podia ocultar” (cf. J.G. Bougerol, Bonaventura, en A. Vauchez (vv.aa.), Storia dei santi e della santità cristiana. Vol. VI. L’epoca del rinnovamento evangelico, Milão, 1991, p. 91).
Recolhamos a herança deste santo doutor da Igreja, que nos recorda o sentido da nossa vida com estas palavras: “Na terra, podemos contemplar a imensidão divina através da razão e do assombro; já na pátria celeste – onde seremos semelhantes a Deus –, por meio da visão e do êxtase, entraremos na alegria de Deus” (La conoscenza di Cristo, q. 6, conclusione, em Opere di San Bonaventura. Opuscoli Teologici /1, Roma 1993, p. 187).
Bento XVI, no dia 3.03.2010