segunda-feira, 2 de maio de 2016

Papa Francisco

O preço do testemunho 

· Missa em Santa Marta ·

Na vida do cristão há um «duplo testemunho»: o do Espírito que «abre o coração» mostrando Jesus, e o da pessoa que «com a força do Espírito» anuncia «que o Senhor vive». Um testemunho, este último, que deve ser dado «não tanto com palavras» quanto com a «vida», mesmo à custa de «pagar o preço» das perseguições.
Foram mais uma vez o Espírito Santo e a sua ação no coração de cada crente o fulcro da meditação do Papa Francisco durante a missa celebrada em Santa Marta na segunda-feira 2 de maio. Com efeito, a liturgia continua a propor trechos dos Atos dos apóstolos (16, 11-15) com as primeiras missões da Igreja nascente e citações do discurso de Jesus durante a última ceia (João, 15, 26 – 16, 4). Em particular no Evangelho do dia lê-se acerca de Jesus que «fala do testemunho que o Espírito Santo, o Paráclito, dará dele e do testemunho que também nós deveríamos dar dele». E Francisco sublinhou que aqui a palavra «mais incisiva» é precisamente «testemunho».
O testemunho do Espírito encontra-se também na primeira leitura onde, quando se fala de Lídia, uma «negociante de púrpura da cidade de Tiatira, uma crente em Deus», se diz: «O Senhor abriu-lhe o coração para aderir às palavras de Paulo». Mas «quem tocou o coração desta mulher?» questionou-se o Pontífice, recordando que Lídia «sentiu dentro de si» algo que a impelia a dizer: «Isto é verdade! Estou de acordo com quanto afirma este homem, este homem que dá testemunho de Jesus Cristo»? A resposta é: «o Espírito Santo». É ele «quem fez sentir a esta mulher que Jesus era o Senhor; fez sentir a esta mulher que a salvação estava nas palavras de Paulo; fez sentir a esta mulher um testemunho».
Por conseguinte, explicou o Papa, é o Espírito que «dá testemunho de Jesus. E todas as vezes que nós sentimos no coração algo que nos aproxima de Jesus, é o Espírito que trabalha dentro de nós». E o próprio Jesus explicou aos discípulos a ação do Espírito: «Ensinar-vos-á e recordar-vos-á tudo aquilo que eu disse». E o Espírito, acrescentou Francisco, «abre constantemente o coração, como abriu o coração desta senhora Lídia», e «dá testemunho para sentir e recordar aquilo que Jesus nos ensinou».
Mas o testemunho, explicou o Papa, «é duplo». Ou seja: «o Espírito dá-nos o testemunho de Jesus e nós damos o testemunho com a força do Espírito do mesmo Senhor». Reafirma-o ainda Jesus no trecho evangélico: «Quando vier o Paráclito, que eu vos mandarei do Pai, o Espírito da verdade, que procede do Pai, Ele dará testemunho de mim; e também vós dai testemunho, porque estais comigo desde o princípio». E o Senhor, observou Francisco, insiste sobre as caraterísticas deste testemunho – «talvez os discípulos não tenham compreendido bem» realçou – acrescentando: «Tenho-vos dito estas coisas para que não vos escandalizeis». Ou seja, ele explica «o preço do testemunho cristão» de forma direta: «Expulsar-vos-ão das sinagogas; virá a hora em que qualquer um que vos matar julgará prestar um serviço a Deus».
Portanto, resumiu o Pontífice, «o cristão, com a força do Espírito, dá testemunho que o Senhor vive, que o Senhor ressuscitou, que o Senhor está no meio de nós, que o Senhor celebra connosco a sua morte e ressurreição, todas as vezes que nos aproximamos do altar»; e fá-lo «na sua vida quotidiana, com o seu modo de agir». É, acrescentou, «o testemunho constante do cristão». Ao mesmo tempo, o cristão deve estar ciente de que por vezes este testemunho «provoca ataques, provoca perseguições»: são «as pequenas perseguições», como as das «bisbilhotices» e das «críticas», mas também das perseguições das quais «a história da Igreja está repleta», ou seja, as que levam «os cristãos para a prisão» ou «até a dar a vida».
Portanto, é o próprio «Espírito Santo que nos fez conhecer Jesus» que nos impele «a fazer com que ele seja conhecido, não tanto com as palavras, quanto com o testemunho de vida». E, concluindo o Papa sugeriu, «é bom pedir ao Espírito Santo que venha ao nosso coração, para dar testemunho de Jesus» e rezar-lhe assim: «Senhor, que eu não me afaste de Jesus. Ensina-me o que ensinou Jesus. Faz-me recordar o que Jesus disse e fez e, também, ajuda-me a dar o testemunho destas coisas. Que a mundanidade, as coisas fáceis, as coisas que provêm precisamente do pai da mentira, do príncipe deste mundo, o pecado, não me afastem do testemunho; que eu não me escandalize, como diz Jesus, de ser cristão, porque alguém me evita ou porque há perseguições».
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