terça-feira, 18 de outubro de 2016

São Lucas, evangelista, «servidor da Palavra» (Lc 1,2)

Comentário do dia:

Beato John Henry Newman (1801-1890), teólogo, fundador do Oratório em Inglaterra
PPS, vol. 3, n.º 22 : «A parte escolhida por Maria»



É boa toda a palavra de Cristo, que tem uma missão e uma finalidade, que não cai por terra. É impossível que o Verbo de Deus tenha jamais pronunciado palavras efémeras, Ele que [...] exprimiu os conselhos profundos e a vontade santa do Deus invisível. Toda a palavra de Cristo é boa. Mesmo que os seus propósitos tenham sido transmitidos por pessoas comuns, podemos estar certos de que nada do que nos foi conservado – sejam palavras dirigidas a um discípulo ou a um opositor, sejam conselhos ou opiniões, sejam reprimendas ou palavras de consolação, de persuasão ou de condenação –, nada tem uma significação puramente acidental, um alcance limitado ou parcial [...].

Pelo contrário, as palavras sagradas de Cristo, mesmo quando nos surgem revestidas de uma aparência temporária e dirigidas a um fim imediato - o que torna mais difícil distinguir o que há nelas de momentâneo e de contingente -, mesmo assim, nada perdem da sua força, a cada século que passa. Pertencendo à Igreja, estão destinadas a durar para sempre nos céus (cf Mt 24,35), prolongando-se até à eternidade. Elas são a nossa regra santa, justa e boa, «farol para os meus passos e luz para os meus caminhos» (Sl 118,105), na mesma plenitude e de forma tão íntima no nosso tempo, como quando pela primeira vez foram pronunciadas.

Tudo isto seria verdade mesmo que considerássemos ter sido obra humana a recolha destas migalhas da mesa de Cristo. Mas temos uma certeza muito maior, porque não as recebemos dos homens, mas de Deus (1Tess 2,13). O Espírito Santo, que veio glorificar Cristo e dar aos evangelistas a inspiração da escrita, não nos traçou um Evangelho estéril. Louvado seja por ter escolhido e salvado para nós as palavras que seriam mais úteis aos tempos vindouros, as palavras que podiam servir de lei à Igreja para a fé, para a moral e para a disciplina. Não uma lei escrita em tábuas de pedra (Ex 24,12), mas uma lei de fé e de amor, de espírito, e não de letra (Rom 7,6), uma lei para corações generosos que aceitam «viver da palavra», por mais modesta e humilde que seja, uma lei «que sai da boca de Deus» (Dt 8,3; Mt 4,4).



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