sábado, 24 de novembro de 2012

Decepção (Final)





DECEPÇÃO

Jeremias 17.5-9

Esquecemo-nos que somos capazes de cometer o erro que os outros cometem conosco.
Há algo em nós que precisa de cuidado. Parte de nossas frustrações relacionais advém de erros que nós cometemos, não de falhas dos outros para conosco. Muitas vezes, nos achamos incapazes de cometer o erro que o outro cometeu conosco. Nós sempre somos corteses. Somos sempre gratos. Procuramos esclarecer os fatos antes de julgar os outros. É isto que pensamos de nós mesmos, embora os outros não pensem a mesma coisa.
Precisamos nos lembrar que há um Pedro dentro de nós. Mesmo advertido de que o faria, o futuro líder da igreja de Cristo negou a Jesus três vezes num curto espaço de tempo. Ele ficou tão decepcionado consigo mesmo, que chorou amargamente (Lucas 26.75). Houve muita virtude neste choro, que poderia ter sido sublimado por uma desculpa. "A pressão era demasiada e eu não aguentei. Eu não neguei; fui apenas mal-interpretado. Também não fez diferença nenhuma o que eu falei".
Devemos ter a visão correta da natureza humana, inclusive para evitar a auto-decepção. Agar, quando ficou grávida, tripudiou sobre Sara, que era estéril (Gênesis 16.4). Sara jamais poderia imaginar aquele comportamento por parte de sua empregada, mas ela o teve, decepcionando-a. Agar, portanto, ao se decepcionar com Abraão e Sara, se esqueceu do que ela mesma fizera.
Não somos perfeitos. Somos Pedro. Somos Sara. Somos Abraão. Somos Agar. Não nos esqueçamos que, por vezes, nós somos os agentes da decepção. Oremos a Deus para nos dar discernimento para ver nossos próprios enganos. O pior engano é o auto-engano.

Lembremos que nem sempre somos realmente decepcionados. Erramos em nossos julgamentos. Nem sempre nossa decepção tem base na realidade. Várias vezes em suas cartas, o apóstolo Paulo lamenta que alguns o julgavam por atitudes que não tomou. Diante, por exemplo, da desconfiança de alguns coríntios, ele escreveu: Não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos, por amor de Jesus (2Coríntios 4.5). Só porque ele pregava com autoridade e condenava com veemência o pecado, alguns achavam que Paulo estava indo longe demais.
Nós somos capazes de condenar as pessoas sem conferir o comportamento delas.
Às vezes, uma pessoa se magoa diante de uma palavra contra ou sobre ela que jamais foi proferida. Precisamos duvidar de nossas certezas.

O QUE A DECEPÇÃO FAZ
Se não temos estas visões, a decepção nos alcança e faz estragos nas nossas vidas.

Com aquele que decepciona
Diante da decepção, que traz transtorno de vários níveis às pessoas, a primeira percepção que devemos ter é o que acontece com aquele que nos decepciona. Quase sempre, não lhe acontece nada. Ele nos decepciona hoje, outro amanhã, e segue a sua vida, como se nada tivesse acontecido.
Em alguns casos, o decepcionador pode até sentir um pouco de culpa, se ficar sabendo do que fez, mas muito dificilmente no mesmo grau do mal que provocou.
Esta realidade pode gerar revolta em nós, mas nem sempre nossa indignação produz alguma mudança no quadro. Não estou pregando o conformismo, mas apenas descrevendo uma parte da realidade. Não estou pregando que abramos mão da justiça, mas que não passemos a vida esperando que quem nos decepcionou nos procure e se acerte conosco. Até devemos orar por isto, mas orar entregando este assunto ao Senhor, para que vivamos em paz.
De igual modo, devemos nos questionar se não estamos decepcionando alguém. O ideal é que cada um de nós sempre se pergunte pelas consequências dos seus atos. Se decepcionamos, que Deus nos ajude a tomar consciência, a pedir perdão e a reparar o mal cometido.

Com aquele que se decepciona.  Interessa-nos mais, por estar mais ao nosso alcance reescrever a história, com o que acontece com quem é decepcionado. A experiência da decepção pode produzir ódio, ressentimento e esgotamento.

A decepção pode resultar em ódio. Deus nunca de fato nos decepciona, razão porque toda decepção com ele é uma decepção consigo mesmo. No entanto, Caim se deixou tomar pelo ódio, que encontrou seu clímax no assassinato. Em lugar de aceitar a razão da não-aceitação do seu sacrifício, Caiu matou seu irmão, já que não podia eliminar o "verdadeiro culpado" (Deus) pela recusa (Gênesis 4.5). O ódio é assim: uma vez desencadeado, não tem muito a ver com justiça.
Devemos tomar cuidado para que a nossa decepção não se transforme em ódio.

A decepção pode se transformar em ressentimento. Decepcionado com Jacó, que o enganou, com o apoio da mãe, Esaú ficou decepcionado com o irmão, que fugiu de casa (Gênesis 27.41). Esaú passou o resto da vida ressentido, desejando matá-lo. O autor da carta aos Hebreus informa que ele nunca foi feliz, embora tentasse, por lhe ter faltado arrependimento (Hebreus 12.17).

O DESAFIO DE VOLTAR A CONFIAR

Se o preço da decepção é alto, é mais alto ainda o preço de não nos relacionarmos, pela simples razão de que não o conseguimos e, no fundo, não o queremos.
Jesus é um exemplo de como nos devemos comportar, mesmo depois da decepção. Após a ingratidão dos nove leprosos (Lucas 17.17), Jesus continuou a curar. Ele não desistiu de fazer o bem porque recebeu a indiferença da maioria como resposta. Podemos imaginar que o fazia pela alegria de alguns, apesar da insensibilidade para a gratidão por parte da maioria. Ele não fazia para ser reconhecido (para que lhe agradecessem). Na verdade, Ele era reconhecido (notado) pelo que fazia.
Há uma personagem bíblica muita marcada pelas decepções. Eu me refiro ao apóstolo Paulo. João Marcos, o sobrinho de Barnabé (Colossenses 4.10), foi um dos que o decepcionaram (Atos 15.39), mas, alguns anos depois, o apóstolo fez um estranho pedido a Timóteo, seu colaborador: Traga Marcos com você, porque ele me é útil para o ministério (2Timóteo 4.11). Paulo aceitou o desafio de voltar a confiar em Marcos, tornando-se de novo seu cooperador (Filemon 24). Aquele que o abandonara era agora um cooperador de grande valor.
Com relação, portanto, àqueles que nos decepcionam, nossa atitude deve ser a de Paulo em relação a João Marcos. Ele não recusou relacionar-se.

Assim diz o Senhor:
"Maldito é o homem que confia nos homens, que faz da humanidade mortal a sua força e cujo coração se afasta do Senhor. Ele será como um arbusto no deserto; não verá quando vier algum bem. Habitará nos lugares áridos do deserto, numa terra salgada onde não vive ninguém.
Mas bendito é o homem cuja confiança está no Senhor, cuja confiança nele está. Ele será como uma árvore plantada junto às águas e que estende as suas raízes para o ribeiro. Ela não temerá quando chegar o calor, porque as suas folhas estão sempre verdes; não ficará ansiosa no ano da seca nem deixará de dar fruto".
O coração é mais enganoso que qualquer outra coisa e sua doença é incurável. Quem é capaz de compreendê-lo?
(Jeremias 17.5-9).

Alguns príncipios extraídos desse texto:

Só devemos confiar de modo absoluto em Deus. Há um nível de confiança que só pode ser dedicada a Deus. Não podemos confiar nos homens como quem confia em Deus. Só Ele é a nossa força, não a humanidade mortal (verso 5). Em Deus nossa confiança deve ser absoluta.
Há um nível de confiança que deve permear os nossos relacionamentos. Sem ela, não há convivência saudável. Com os nossos semelhantes, a confiança deve ser necessariamente relativa. Devemos nos relacionar, mas não devemos ser ingênuos. Não podemos nos esquecer que o coração é enganoso (verso 9).

Nossa confiança no homem não nos pode afastar de Deus. Precisamos confiar para nos relacionarmos, mas é um equívoco acreditar na bondade natural do coração humano. Se houver uma confiança homem-homem extrapolando o nível adequado, o resultado é uma proximidade tal que nos afastamos de Deus. A advertência de Jeremias (verso 5) parte de uma verificação da realidade: quando confiamos demais em nós mesmos ou nos outros, nós deixamos de buscar Aquele que jamais nos decepciona.



Devemos transformar a decepção num caminho de volta para Deus.

Há um lado positivo na decepção; é quando ela nos ajuda a nos voltarmos para Deus como Aquele em Quem podemos realmente confiar. Ela nos lembra quem é o ser humano; ela nos recorda quem somos nós; ela nos apresenta Quem é Deus.
Por isto, devemos ter sempre diante de nós a advertência de Jeremias, que, a propósito, encontra eco na descrição do poeta do salmo 1: Bendito é o homem cuja confiança está no Senhor, cuja confiança nele está. Ele será como uma árvore plantada junto às águas e que estende as suas raízes para o ribeiro. Ela não temerá quando chegar o calor, porque as suas folhas estão sempre verdes; não ficará ansiosa no ano da seca nem deixará de dar fruto (versos 7 e 8).
 



Glorificado e Engrandecido seja o nome do nosso Senhor e Salvador, JESUS CRISTO!

Amém!



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