quinta-feira, 27 de agosto de 2015

O uso correto da fé




A 25 de Agosto de 1900, em Weimar, morria na solidão e na loucura Frederich Nietzsche. Alguns anos antes, na autobiografia, intitulada de modo um pouco sacrílego «Ecce homo» ele perguntou-se: «Onde está Deus?». A resposta foi: «Gostaria de vos dizer: fomos nós que o matámos, vós e eu. Sim, os seus assassinos somos todos nós. Deus está morto. Deus está morto!».

Assim nascia a corrente de pensamento que, por mais de um século, foi conhecida como «a morte de Deus». Depois, o cientismo afirmou que só a ciência é capaz de revelar ao homem toda a verdade. Só a ciência é fundamento da sabedoria. Pode existir uma moral sem Deus.

Certamente, olhando para o mundo de hoje, não podemos deixar de nos surpreender ao constatar o retorno ao sagrado, ou melhor a uma determinada religiosidade porque se descarta qualquer ideia de revelação. Está-se em busca de uma sabedoria, mais do que de uma religião. Partilham-se as experiências espirituais sem a preocupação dos dogmas: believing without belonging.

Após o fim da unanimidade cultural, o desenvolvimento do pluralismo, o isolamento da religião na esfera privada, e o enfraquecimento dos valores e dos modelos, a religião tornou-se, em poucos anos, um factor fundamental da vida política, económica e cultural. Mas esta nova religiosidade, frequentemente panteísta e sincretista, traduz a necessidade de uma «transcendência» na qual as nossas perguntas fundamentais poderiam encontrar solução: qual é o sentido da vida e da história? Por que sofrer e morrer? O que podemos saber da origem e do fim do mundo, etc.? Isto faz com que a Nostra aetate afirme: «Os homens esperam das diversas religiões resposta para os enigmas da condição humana, os quais, hoje como ontem, preocupam profundamente os seus corações: que é o homem? qual o sentido e a finalidade da vida? que é o pecado? donde provém o sofrimento, e para que serve? qual o caminho para alcançar a felicidade verdadeira? que é a morte, o juízo e a retribuição depois da morte? finalmente, que mistério último e inefável envolve a nossa existência, do qual vimos e para onde vamos?» (n. 1). E o texto continua: «Desde os tempos mais remotos até aos nossos dias, encontra-se nos diversos povos certa percepção daquela força oculta presente no curso das coisas e acontecimentos humanos; encontra-se por vezes até o conhecimento da divindade suprema ou mesmo de Deus Pai» (n. 2).

Jean-Louis Tauran

Fonte: Osservatoreromano

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