sábado, 27 de dezembro de 2014

Comentário o dia


João Escoto Erígena (?-c. 870), beneditino irlandês
Homilia sobre o prólogo do evangelho de João, § 2

«O que existia desde o princípio, […] o que contemplámos, […] isso vos anunciamos» (1Jo 1,1-3)

Pedro e João correm para o túmulo. O túmulo de Cristo é a Sagrada Escritura, na qual os mistérios mais obscuros da divindade e da humanidade de Jesus estão defendidos, por assim dizer, por uma muralha de rocha. Mas João corre mais depressa que Pedro, pois o poder da contemplação totalmente purificada penetra os segredos das obras divinas com um olhar mais agudo e mais vivo que o poder da acção ainda não totalmente pura.


Contudo, é Pedro quem entra primeiro no sepulcro; João segue-o. Os dois correm e entram os dois. Aqui, Pedro é a imagem da fé e João representa a inteligência. […] Portanto, a fé deve entrar em primeiro lugar no sepulcro, que é imagem da Sagrada Escritura, e a inteligência deve segui-la. […]


Pedro, que representa também a prática das virtudes, vê, pelo poder da fé e da acção, o Filho de Deus encerrado dum modo inexprimível e maravilhoso nos limites da carne. João, que representa a mais alta contemplação da verdade, admira o Verbo de Deus, perfeito em Si próprio e infinito na sua origem, isto é, em seu Pai. Pedro, conduzido pela revelação divina, olha ao mesmo tempo para as coisas eternas e para as coisas deste mundo, unidas em Cristo. João contempla e anuncia a eternidade do Verbo para O dar a conhecer às almas crentes.


Digo, portanto, que João é uma águia espiritual de voo rápido, que vê Deus; chamo-lhe teólogo. Ele domina toda a criação visível e invisível, vai para além das faculdades do intelecto, e entra divinizado em Deus, que com ele partilha a sua própria vida divina.


Nenhum comentário:

Postar um comentário