quarta-feira, 14 de maio de 2014

A mulher de Ló

 
Seu caráter: Era uma mulher rica, talvez mais apegada às coisas boas da vida do que deveria. Embora não haja qualquer indicação de que participasse do pecado de Sodoma, sua história deixa implícito que aprendera a tolerá-lo e que seu coração acabou dividido por causa disso.

Seu sofrimento: Sua escolha levou-a ao castigo em vez da misericórdia, acabando por fazê-la rejeitar as tentativas de Deus para salvá-la.

Textos-chave: Gênesis 18.16-19; 29 / Lucas 17.28-33

SUA HISTÓRIA: A mulher de Ló tinha apenas algumas horas de vida, embora não soubesse disso. Provavelmente, continuava sua rotina diária, como de costume, arrumando a casa, cozinhando e bisbilhotando a vida alheia com as vizinhas, sem suspeitar da tragédia prestes a desabar sobre ela. Anos antes, ela se casara com o sobrinho de Abraão e o casal enriqueceu; eles possuíam muita terra e gado. Com o passar do tempo, instalaram-se confortavelmente em Sodoma, sentindo-se, ao mesmo tempo, desconfortáveis numa cidade tão perversa a ponto de o céu mandar anjos para investigar as acusações contra ela. Ló estava na porta da cidade no momento em que os anjos chegaram. Depois de cumprimentar os estranhos, implorou que passassem a noite em sua casa, com medo do que poderia ocorrer com eles quando escurecesse. A mulher de Ló deve ter também acolhido os estranhos cordialmente, pois a hospitalidade era um costume sagrado no mundo antigo. Então, pouco antes de irem dormir, devem ter ouvido as vozes. A princípio, palavras abafadas; depois gargalhadas estridentes e, finalmente, uma gritaria insuportável provocada por um grupo de homem que cercava a casa. Vozes ásperas gritavam para que Ló abrisse a porta e entregasse os hóspedes, a fim de que se divertissem com eles. - Rogo-vos, meus irmãos, que não façais mal – gritou Ló em resposta. A multidão furiosa queria, porém, satisfazer seus desejos. Ló fez, então, uma proposta de estarrecer: - Tenho duas filhas, virgens, eu vo-las trarei; tratai-as como vos parecer, porém, nada façais a estes homens, porquanto se acham sob a proteção de meu teto (Gn 19:8). No entanto, os homens de Sodoma recusaram-se a aceitar um “não como resposta e correram para a porta, tentando arrombá-la. Os anjos, subitamente, estenderam a mão. Fizeram Ló entrar e fecharam a portar, deixando os que estavam fora cegos. Os anjos perguntaram em seguida a Ló: - Tens aqui alguém mais dos teus? Genro, e teus filhos e tuas filhas, todos quantos tens na cidade, faze-os sair deste lugar; pois vamos destruir este lugar (Gn 19.12-13a). Os genros de Ló pensarem que ele estava brincando e recusaram-se a partir. De madrugada, os anjos insistiram novamente com Ló para que se apressasse, a fim de que ele, a mulher, e as filhas não morressem com o resto da cidade. Mesmo assim, a família hesitou, até que os anjos agarraram a todos pela não e os arrastaram, insistindo: - Livra-te, salva a tua vida; não olhes para trás, nem pares em toda a campina; foge para o monte, para que não pereças (Gn 19:17). Quando Ló e sua família chegaram à pequena cidade de Zoar, o sol havia surgido sobre a terra e tudo em Sodoma achava-se envolto em fogo e enxofre. Homens, mulheres, crianças e rebanhos, tudo foi aniquilado. Um terrível juízo sobre o pecado. Mas o juízo foi ainda pior do que Ló ou suas filhas compreenderam a princípio. Salvos, finalmente, devem ter olhado uns para os outros, aliviados por estarem todos bem. De repente, voltaram-se, espantados, percebendo que faltava um deles. Devem ter procurado, esperado com todas a forças, até que finalmente viram a silhueta branca de uma coluna de sal contra o céu, um monumento solitário na forma de uma mulher olhando para Sodoma. Se você já viu fotos da antiga cidade de Pompeia, destruída pela erupção do Monte Vesúvio em 70 dC, na qual formas humanas foram preservadas até hoje pelo rio de lava que as matou onde estavam, pode imaginar o desastre que sobreveio à mulher de Ló. Por que ela se voltou e olhou para trás, apesar do aviso do anjo? Seu coração continuaria apegado a tudo que deixara na cidade – uma vida confortável, despreocupada e prazerosa? Teria familiares presos ali? Ou apenas se deixou fascinar pelo trágico espetáculo que acontecia atrás dela? É possível que todas estas coisas combinadas fossem o motivo de seus passos ficarem mais lentos, de sua cabeça voltar-se e de seu corpo ser surpreendido pelo castigo do qual Deus queria poupá-la – ela preferiu o juízo em vez da misericórdia. Jesus advertiu seus seguidores para se lembrarem da mulher de Ló: “assim será no dia em que o Filho do Homem se manifestar. Naquele dia, quem estiver no eirado e tiver os seus bens em casa não desça para tirá-los; e de igual modo quem estiver no campo não volte para trás. Lembrai-vos da mulher de Ló. Quem quiser preservar a sua vida perde-la-á; e quem a perder de fato a salvará” (Lc 17:30-33). Palavras severas lembrando uma história trágica, com o propósito de nos desviar das ilusões traiçoeiras da perversidade e de nos lançar em segurança nos braços da misericórdia.

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