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domingo, 5 de abril de 2015
Pessach
A onda de prosperidade no Egito parecia eterna. Já eram 400 anos de crescimento contínuo. A agricultura e o gado se expandiam até limites nunca vistos. As construções, as estradas, as obras faraônicas se multiplicavam. Nada parecia melhor do que viver banhado pelas águas do Nilo e ter acesso às lindas praias do Mediterrâneo sob a proteção do Deus Sol. O Faraó e o povo egípcio desfrutavam de uma vida confortável, sustentada pela mão de obra escrava de um povo que parecia esquecido por seu Deus: o povo hebreu.
Poucos perceberam que as bases desta superpotência dos tempos antigos estava ruindo. Pouco distante das grandes cidades vivia um pastor de nome Moisés, que já havia vivido no conforto da corte egípcia, mas preferiu a liberdade do deserto, ainda que deixasse de ser príncipe para se tornar pastor de algumas ovelhas num terreno que o Faraó certamente desdenharia como sendo gurnisht – se na nossa fantasia o faraó falasse yídishe. Mas o pastor que abdicou de ser príncipe de um reino decadente, descobriu no deserto um terreno fértil para a liberdade. Foi lá, livre das amarras da corte egípcia, que ele descobriu verdadeiramente os valores mais caros do seu povo: a liberdade de ação e de expressão (ainda que no início gaguejasse um pouco), o espaço para a criatividade, o terreno da ética. Foi então que, convocado pelo Deus do Povo de Israel, fez ruir a sociedade escravocrata e libertou a sua gente do Egito.
Aqueles homens e mulheres foram explorados por 400 anos e nem sabiam mais que seus corpos e mentes estavam escravizados. Mas agora estavam livres. E agora José? E agora Moisés, Aarão, Miriam, Rebeca, Benjamin – e agora, Israel? Quais são as bases para construir uma nova sociedade?
Após uma aparentemente longa caminhada pelo deserto – eles não tinham ideia do que viria pela frente – Moisés subiu ao Monte Sinai e recebeu as Tábuas da Lei diretamente de Deus, mas logo as estilhaçou contra as pedras quando Moisés se deu conta de que o povo ainda estava com a mente viciada na vida escrava e sonhava com a antes próspera – e agora falida, material e moralmente – sociedade egípcia, cujo poder estava nostalgicamente representado pelo Bezerro de Ouro, reluzente como o Deus Sol. Moisés estava decepcionado com seu povo, e Deus estava decepcionado com Moisés. O que fazer, voltar ao Egito? Ou reconstruir as relações?
Moisés decidiu encarar o desafio e reconstruir sua relação com Deus:
Moisés: “Você me diz para subir com este povo do Egito para Israel, mas não me explica como fazer isso”.
Deus: “Moisés, Eu gosto de você, estarei com você nesta jornada, fique tranquilo”.
Moisés: “Se Você não estiver conosco, não nos tire daqui”.
Deus: “Moisés, Eu darei o melhor de Mim, estarei inteiramente presente ao seu lado, serei tão piedoso quanto puder tão e compassivo quanto puder.”
Quanto puder???
Por um lado, Deus afirma que dará o melhor de Si e estará sempre disponível. Por outro, coloca limites na extensão da Sua piedade e compaixão e ordena que Moisés faça tudo de novo: subir no Monte Sinai e talhar duas novas pedras onde seriam inscritas as palavras destroçadas com as primeiras. Por quê? Porque Deus é piedoso e compassivo, demora a perder a paciência conosco (mesmo quando jogamos tudo montanha abaixo), mas com uma condição: que reconheçamos nossos erros e busquemos recomeçar, agora direito.
Feito isso, como profetizou Ezequiel, quando nos sentirmos mortos e sem esperança, o espírito Divino virá dos quatro cantos do mundo para nos inspirar e fazer com que nos sintamos vivos e confiantes, prontos para reiniciar a jornada. Como se estivéssemos saindo hoje do Egito, com todas as possibilidades em aberto, respirando os ares da liberdade de sermos quem somos: Israel – aquele que enfrenta Deus e todo mundo, e vence.
Chag Pessach Sameach
Rabino Uri Lam
SIB – Sociedade Israelita da Bahia
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