segunda-feira, 20 de abril de 2015

Comentário do dia



«Rabi, quando chegaste cá? […] A obra de Deus é esta: crer»

Cristo recusou-Se a dar testemunho de Si mesmo, a dizer quem era e de onde vinha; Ele esteve entre os seus contemporâneos «como aquele que serve» (Lc 22,27). Aparentemente, só depois da ressurreição e, sobretudo, depois da ascensão, quando o Espírito Santo desceu, é que os apóstolos entenderam Quem tinha estado com eles. Souberam depois de tudo ter acabado, mas não antes. Vemos aqui, em minha opinião, a manifestação de um princípio geral que se nos apresenta muitas vezes, quer na Escritura, quer no mundo: que não discernimos a presença de Deus no momento em que Ele está connosco, mas somente depois, quando olhamos para o que se passou e que já não existe. […]


Acontecem-nos coisas agradáveis ou penosas, cujo significado não entendemos na altura, pois não vemos nelas a mão de Deus. Se tivermos uma fé firme, confessaremos aquilo que não vemos e aceitaremos tudo o que nos acontece como vindo dele. Mas, quer aceitemos com espírito de fé quer não, o certo é que não há outro modo de aceitar. Porque nós não vemos nada. Não percebemos porque foi que tal coisa aconteceu. Um dia Jacob clamou: «É sobre mim que tudo isto cai» (Gn 42,36); e dava essa impressão. […] E contudo, todas as suas desgraças acabariam em bem. Considerai seu filho José, vendido pelos irmãos, levado para o Egipto, feito prisioneiro, com os ferros a penetrar-lhe a própria alma, esperando que o Senhor lhe dirigisse um olhar benevolente. Muitas vezes o texto sagrado diz: «O Senhor estava com José.» […] De repente, percebeu aquilo que na altura lhe tinha parecido tão misterioso, e disse aos seus irmãos: «Deus enviou-me à vossa frente para vos preparar recursos neste país, vos conservar a vida e garantir a sobrevivência duma forma maravilhosa. Não, não fostes vós que me fizestes vir para aqui, foi Deus» (Gn 45,7-8).


Maravilhosa Providência, tão silenciosa e, no entanto, tão eficaz, tão constante e infalível! É ela que derrota o poder de Satanás, que não consegue discernir a mão de Deus a operar no curso dos acontecimentos.

Beato John Henry Newman (1801-1890), teólogo, fundador do Oratório em Inglaterra
PPS IV,17 «Christ Manifested in Remembrance»



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