segunda-feira, 18 de abril de 2016

São Tomé

O APÓSTOLO QUE QUER VER PARA CRER




Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, que quer dizer “Gêmeo” quando da manifestação de Jesus para os apóstolos, não estava com eles. Disseram-lhe os outros discípulos: “Vimos o Senhor”. Tomé, que no seguimento a Jesus, havia vivido tantos contratempos e acontecimentos que não entendera, já não era o mesmo Tomé crente, mas um Tomé receoso, cuidadoso, atento a todos os pormenores com a sua crítica exigente que tinha direito a resposta razoavel para todas as afirmativas que colocassem em dúvida a sua credibilidade. Deixara de ser um homem pronto a crer e aceitar, e passou a se preocupar em não ser vítima da sua auto-ilusão, mas aquele que se recusava a crer até no que via. Tomé aceitara o convite de Jesus  para seguí-lo, e tinha se proposto até ir com ele para Betânia e, se fosse necessário, morrer com Jesus; Tomé queria saber para onde Jesus dizia que iria para ele pudesse ir junto, não importando para onde fosse.
Mas tudo havia se tornado uma ilusão: o Mestre havia morrido, o sonho acabara. E agora vem os discípulos e lhe dizem: “Vimos o Senhor” exatamente no dia e hora em que Tomé estava ausente. Estariam os discípulos de Jesus querendo brincar com coisa tão importante e séria? Tomé já havia acreditado demais. Não queria sofrer uma nova desilusão.
         Ao ouvir: “Vimos o Senhor”, Tomé responde prontamente e com convicção: “Se eu não vir o sinal dos cravos nas suas mãos, e não puser o dedo no lugar dos cravos, e não puser a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma acreditarei.” (Jo 20,25).
Como pode ser interpretada esta atitude de Tomé? Indiferença? Descrença? Honestamente, qual teria sido a sua atitude numa situação dessa? Você acreditaria prontamente no que diziam, ou deixaria transparecer a sua dúvida, a sua incredulidade, a sua indiferença, a sua descrença? Indiferença não. Talvez, o medo de se encontrar com Jesus depois de tudo que se passara.
Tomé, que havia se declarado pronto a morrer pelo Mestre, que havia encorajado os outros apóstolos a seguí-lo, afinal, também, como os demais, havia fugido na hora de perigo em que o Mestre fora preso, julgado, condenado e crucificado. Talvez o medo de sofrer uma nova desilusão.
A convivência com Jesus havia levado Tomé a um mundo que não era o seu, e nesse momento, afastado do seu Mestre, voltara à sua antiga natureza materialista. Assaltado pela tristeza, pela dúvida e pela desilusão, recusava-se a crer mesmo naquilo que visse, até que pudesse agarrar com as suas mãos e fazer como os cegos que por vezes se enganam menos que os que tem visão.
E acontece que, “oito dias depois, encontravam-se os discípulos novamente reunidos em casa e Tomé estava com eles. Estando as portas fechadas, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: ‘A paz esteja com vocês’.” (Jo 20,26). E acontece que Tomé estava presente. A voz calma de Jesus soa no ambiente com toda a nitidez: “A paz esteja com vocês”. Era a mesma voz que Tomé tão bem conhecia e que durante três anos lhe falara da ressurreição que ele, agora, colocava obstáculo e se recusava em aceitar. O Mestre voltara com a sua saudação tão conhecida.“A paz esteja com vocês”.
Era o mesmo Mestre; era o Mestre mesmo... Era a mesma saudação de paz que Jesus dirigia nesse momento àqueles que dias antes o haviam abandonado e fugido, que haviam quebrado as suas promessas de morrer pela fé, que haviam voltado para os seus afazeres, os seus lares.
O Mestre não dirige a Tomé uma única palavra de censura, como também não faria a cada um de nós. Em vez disso, o Mestre voltara com a sua calma costumeira e serenidade para lhes dar a sua paz. Essa paz que excede todo o nosso entendimento. O Mestre está mais pronto a conceder o seu perdão do que nós a recebê-lo.
Jesus aproxima-se, olha para cada um dos apóstolos e fixa o seu olhar em Tomé. Desta vez Jesus viera propositadamente para Tomé. Era o Bom Pastor que vinha buscar a ovelha perdida, o Mestre que vinha em auxílio do seu discípulo querido. Jesus dirige-se para Tomé e coloca-se na sua frente, e lhe diz: “Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não seja incrédulo mas fiel.” (Jo 20,27). Numa crise de fé, Tomé tem de decidir e agir. Ele sente uma nova, verdadeira e poderosa fé nascer no seu coração. Aquele Mestre que ele tanto amara, aquele por quem estivera pronto a dar a sua vida, aquele em quem crera como homem, como Mestre, como amigo, aquele em quem crera sem esperança, estava na sua frente. Cristo voltara de além-túmulo para lhe dizer que era mais do que um Mestre, mais do que um amigo, mais do que um profeta. Cristo voltara para lhe lembrar as suas palavras: Não fique perturbado o coração de vocês; acreditem em Deus, acreditem também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu teria dito a vocês; vou prepara lugar para vocês. E, se eu for e preparar lugar para vocês, virei outra vez, e tomarei vocês para mim mesmo, para que onde eu estiver estejam vocês também. E para onde eu vou vocês conhecem o caminho.” (Jo 14,1-4). Tomé, movido pela poderosa fé que sentia no seu coração, disse o que até aí não tinha descoberto: “Meu Senhor e meu Deus”. (Jo 20,28).
Tomé tornou-se o primeiro dos apóstolos a se dirigir a Jesus nestes termos, chamando-o de“Meu Deus”. Ninguém até aquele momento, nem mesmo Pedro, nem mesmo João, haviam pronunciado a palavra “Deus” dirigindo-se a Jesus. Tomé não se limita a ter uma nova opinião sobre a ressurreição de Jesus. Ele toma uma decisão. “Meu Senhor”. Ele se arrepende e entrega-se incondicionalmente a Jesus aceitando-o como seu Salvador. “Meu Deus”. Já não era a mesma fé sem esperança, movida pela lealdade a um amigo. Daí em diante, Tomé punha Jesus Cristo em igualdade com Deus Pai, acredita em Jesus Cristo como o Filho único de Deus.
Por vezes uma fé forte cresce vagarosamente. Após três anos de estudos e experiências, alegrias e desilusões, Tomé atingira a verdadeira maturidade da fé em Jesus Cristo como Deus onipoten

Nenhum comentário:

Postar um comentário