quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Comentário do Dia


«Eu vim lançar fogo sobre a terra»


«Eu vim lançar fogo sobre a terra e como gostaria que ele já se tivesse ateado.» […] O Senhor quer-nos vigilantes, esperando a todo o momento a vinda do Salvador. […] Mas, dado que o proveito é pequeno e o mérito fraco quando é o receio do suplício que impede que nos percamos, e uma vez que o amor tem um valor superior, o próprio Senhor […] ateia o nosso desejo de alcançar a Deus quando diz: «Eu vim lançar fogo sobre a terra.» Não se trata, obviamente, do fogo que destrói, mas do que produz a boa vontade, daquele que torna melhores os vasos de ouro da casa do Senhor ao consumir o feno e a palha (1Cor 3,12ss), devorando toda a ganga do mundo, acumulada pelo gosto dos prazeres terrenos, obra da carne, que deve perecer.


Era o fogo divino que ardia nos ossos dos profetas, como declara Jeremias: «Dentro de mim ardia um fogo devorador, encerrado nos meus ossos» (Jer 20,9). Porque há um fogo do Senhor, do qual se diz: «Há um fogo que o precede» (Sl 96,3). O próprio Senhor é um fogo, diz Ele, «que arde sem consumir» (Ex 3,2). O fogo do Senhor é luz eterna; e nesse fogo se acendem as lâmpadas dos crentes: «Estejam cingidos os vossos rins e acesas as vossas lâmpadas» (Lc 12,35). Como os dias dessa vida ainda são noite, temos necessidade de uma lâmpada. Era o fogo que, segundo o testemunho dos discípulos de Emaús, o próprio Senhor tinha colocado neles: «Não estava o nosso coração a arder cá dentro quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as escrituras?» (Lc 24,32) Eles ensinam-nos qual é a acção desse fogo, que ilumina o fundo do coração do homem. É por isso que o Senhor virá no fogo (Is 66,15), para consumir o mal no momento da ressurreição, cumulando com a sua presença os desejos de todos e projectando a sua luz sobre os méritos e os mistérios.


Santo Ambrósio (c. 340-397), bispo de Milão, doutor da Igreja
Comentário sobre o evangelho de Lucas, 7, 131s; SC 52





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