Reflexões pós Pessach
Jonathan Sacks, rabino-chefe da Grã-Bretanha
Acredito
que cada um de nós tem seus próprios candidatos para os livros que nos
mudaram e nos ensinaram a enxergar o mundo de modo um tanto diferente.
Minha própria escolha seria a história que os judeus em todo o mundo
leram na noite de Pessach, a história do Livro do Êxodo que conta como
nossos ancestrais, há 33 séculos, foram libertados da escravidão e
começaram aquilo que Nelson Mandela chamou de "a longa caminhada até a
liberdade". Obviamente, nós não apenas o lemos, nós o revivemos, comendo
matzá, o pão ázimo da aflição e saboreando as ervas amargas da
opressão, e tudo começa com perguntas feitas por uma criança. Embora
pensemos nela como uma história judaica, ela foi adotada por outros como
se também pertencesse a eles. Quando os americanos conquistaram sua
liberdade após lutarem com os britânicos, Thomas Jefferson a comparou ao
Êxodo. Quando os afro-americanos marcharam pela liberdade, cantaram as
palavras de Moshê: Deixe meu povo ir." Mais recentemente, inspirou a
Teologia da Libertação na América do Sul. É uma das narrativas mais
notáveis sobre esperança e realmente ajudou a mudar o mundo.
"Mesquitas, sinagogas, templos
hindus e santuários budistas ainda são atacados. As pessoas ainda odeiam
em nome do D'us do amor, matam em nome do D'us da vida, e praticam
crueldade em nome do D'us da compaixão. Pergunto-me se o próprio D'us
não chora ao ver os males cometidos em Seu Nome."
(Jonathan Sacks - rabino-chefe da Grã-Bretanha)
Por quê? Porque foi a primeira vez que a religião entrou na situação
humana como uma voz revolucionária. As religiões do mundo antigo, como
seus substitutos seculares atuais, eram justificativas do "status quo".
Explicavam por que os ricos e poderosos tinham de ser ricos e poderosos.
O Êxodo disse o contrário. O poder supremo entra na história para
resgatar os indefesos. O D'us de toda a humanidade nos pede para
garantirmos liberdade e dignidade a toda a raça humana. Acima de tudo,
Ele nos ordena amar o estrangeiro porque nossos ancestrais certa vez
foram estrangeiros numa terra que não lhes pertencia. O que mais me
abalou em minhas reflexões neste Pessach é como a humanidade está indo
mal no Século XXI. Ainda hoje a religião é usada como uma desculpa para a
violência e derramamento de sangue. Mesquitas, sinagogas, templos
hindus e santuários budistas ainda são atacados. As pessoas ainda odeiam
em nome do D'us do amor, matam em nome do D'us da vida, e praticam
crueldade em nome do D'us da compaixão. Pergunto-me se o próprio D'us
não chora ao ver os males cometidos em Seu Nome. Pessach começa com
essas palavras: "Este é o pão da aflição que nossos ancestrais comeram
no Egito. Deixe que todos os famintos venham e comam". A liberdade
começa quando partilhamos nosso pão com os outros. Uma história simples,
porém ainda tem o poder de mudar o mundo.
Fonte: chabad.org
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