A ditadura do pensamento único
«Também hoje existe a ditadura do pensamento único». Se não pensarmos de um determinado modo não somos considerados modernos, abertos. E pior ainda acontece «quando alguns governantes pedem uma ajuda financeira» e lhe respondem «mas se tu quiseres esta ajuda deves pensar deste modo e deves fazer esta ou aquela lei».
O risco do pensamento único que ameaça a relação com Deus esteve no centro da homilia do Papa Francisco durante a missa celebrada na manhã de quinta-feira, 10 de Abril, em Santa Marta. «O fenómeno do pensamento único» sempre causou «desgraças na história da humanidade» afirmou o Santo Padre, recordando também as tragédias das ditaduras do século XX. Mas, disse, é possível reagir: rezando e vigiando.
Referindo-se às leituras do dia o Papa frisou que a liturgia «nos faz ver a promessa de Deus a Abraão nosso pai». A referência é relativa ao trecho do Génesis (17, 3-9), no qual Deus promete a Abraão que se tornará «pai de muitas nações. E «o povo de Deus a partir daquele momento – explicou o Santo Padre – começou a caminhar» fazendo com que se realizasse esta promessa, fazendo com que se tornasse realidade. É «uma promessa que, também da parte de Abraão com Deus, tem a forma de aliança». Com efeito, Deus diz a Abraão. «Por tua vez deves observar a minha aliança, tu e a tua descendência depois de ti, de geração em geração». Portanto, é necessário «respeitar a aliança».
E assim, continuou o Papa, «compreende-se que os mandamentos não são uma lei fria; os mandamentos nasceram desta relação de amor, desta promessa, desta aliança». E, inspirando-se na passagem evangélica de João (8, 51-59) proclamado na liturgia hodierna, o Pontífice prosseguiu a sua reflexão indicando que «o erro destes doutores da lei que não eram bons e queriam lapidar Jesus – contudo, naquele tempo haviam também fariseus e doutores da lei bons – consistiu em separar os mandamentos da promessa, da aliança». Ou seja, «separar os mandamentos do coração de Deus, o qual ordenou que Abraão que caminhasse sempre em frente».
Na opinião do Papa Francisco «o erro destas pessoas» nasceu do facto de não ter «percebido o caminho da esperança: pensavam que com os mandamentos tudo fosse pleno, tudo estivesse cumprido». Mas «os mandamentos que nascem do amor desta fidelidade de Deus são regras para ir em frente, indicações para não errar: ajudam-nos a caminhar, até chegar ao encontro com Jesus». Ao contrário, as pessoas sobre as quais nos fala hoje o Evangelho continuam a repetir: «existem leis que devemos respeitar».
Eis então, observou o Pontífice, «o drama do coração fechado, o drama da mente fechada. E quando o coração está fechado, ele fecha a mente. E quando coração e mente estão fechados não há lugar para Deus». Eis que, explicou o Papa, existimos «só nós» e estamos convictos de fazer exactamente «o que indicam os mandamentos». Mas «os mandamentos trazem uma promessa e os profetas despertam esta promessa».
Face à «mente fechada, para Jesus não é possível convencer, não é possível dar uma mensagem de novidade». Que, aliás, «não é nova» mas «é quanto foi prometido pela fidelidade de Deus e pelos profetas». Todavia os interlocutores de Jesus «não compreendem, o pensamento deles não está aberto ao diálogo, à possibilidade que haja algo mais, à possibilidade que Deus nos fale e nos indique como é o seu caminho, como fez com os profetas».
Certamente, acrescentou ainda o Pontífice, estas pessoas não ouviram os profetas nem Jesus. Contudo, a sua atitude vai além da simples teimosia. É algo mais! É idolatira do próprio pensamento.
O «fenómeno do pensamento único» causou sempre «desgraças na história da humanidade», afirmou o Pontífice. «No século passado as ditaduras do pensamento único acabaram por matar muitas pessoas».
Mas «também hoje – admoestou o Papa – há a idolatria do pensamento único. Hoje devemos pensar assim e se alguém pensar de forma diferente não é considerado moderno, não é aberto». Portanto, hoje existe a mesma ditadura sobre a qual fala o Evangelho. A forma de agir é a mesma. São pessoas que «pegam nas pedras para lapidar a liberdade dos povos, das pessoas, das consciências, da relação do povo com Deus. E hoje Jesus é crucificado de novo».
E assim, acrescentou o Papa, «esta não é uma história daquele tempo, dos fariseus malvados, destas pessoas fechadas. É uma história de hoje». E «o conselho do Senhor perante esta ditadura é sempre o mesmo: vigiar e rezar».
O Pontífice concluiu exortando a «não ser ingénuos», a não comprar coisas que não servem. E a «ser humildes e a rezar para que o Senhor nos dê sempre a liberdade do coração aberto para receber a sua palavra que é promessa e alegria! É aliança! E com esta aliança ir em frente».
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