domingo, 18 de outubro de 2015

Papa Francisco

A sedução do claro-escuro

· ​Missa em Santa Marta ·

Existe um «vírus» poderoso e perigoso que nos ameaça, mas há também um Pai «que nos ama muito» e nos protege. A sedução sorrateira da hipocrisia esteve no centro da homilia do Papa Francisco durante a missa celebrada em Santa Marta na manhã de 16 de Outubro.
A referência evangélica foi proposta pela leitura do dia (Lc 12, 1-7): «Jesus estava no meio de milhares de pessoas» — uma multidão reunida ao seu redor, a ponto «que se pisavam uns aos outros» — e, antes «de falar ao povo, de ensinar» como costumava fazer, dirige-se «aos discípulos ali presentes». No meio de tanta gente «fala-lhes de algo pequeníssimo: do fermento».
A advertência do Senhor — «Guardai-vos do fermento dos fariseus» — parece-se, disse o Pontífice, com a de «um médico, que aos seus colaboradores e ajudantes diz: “Guardai-vos a fim de que toda esta gente não seja contagiada pelo vírus”». E o «fermento dos fariseus», acrescentou Francisco, é «a hipocrisia». A hipocrisia da qual Jesus sempre lhes falou com extrema franqueza, dizendo-lhes «na cara»: «Hipócritas, hipócritas: vós sois hipócritas!».
Mas, em síntese, o que contém o vírus do qual Jesus fala «no meio da multidão»? O Papa explicou-o: «A hipocrisia é o modo de viver, agir, falar que não é claro», que se apresenta de maneira ambígua: «talvez sorria, talvez seja sério... não é luz, não são trevas». É um pouco como a serpente: «move-se de modo que parece não ameaçar ninguém» e tem «o fascínio do claro-escuro». Ou seja, a hipocrisia tem o fascínio «de não dizer as coisas claramente; o fascínio da mentira, das aparências». Nos Evangelhos, o próprio Jesus acrescenta algumas anotações sobre o comportamento dos «fariseus hipócritas», dizendo que estão «cheios de si próprios, de vaidade», e que gostam de «passar pelas praças» para mostrar que são importantes.
Jesus alerta contra eles e, retomando a palavra, diz a todos: «Não tenhais medo, não temais: guardai-vos só do fermento desta gente, porque o que está escondido virá à luz. Não há nada de oculto que não venha a descobrir-se, nada de escondido que não venha a ser conhecido. Pois o que dissestes às escuras será dito à luz; e o que falastes ao ouvido, nos quartos, será publicado em cima dos telhados». Como se dissesse: não serve esconder-se, pois no fim «tudo será claro». E dizia isto, explicou, «porque o fermento dos fariseus levava o povo a amar mais as trevas que a luz». O apóstolo João frisa-o, quando escreve: «Os homens amaram mais as trevas que a luz».
Nesta altura, prosseguiu Francisco a sua reflexão, Jesus «chama a atenção para a confiança em Deus». Pois se é verdade que «este fermento é um vírus que faz adoecer» e morrer — e Jesus avisa: «Atenção! Este fermento leva-te às trevas. Atenção!» — também é verdade que existe alguém «maior», e é «o Pai que está no Céu». Para explicar esta presença solícita do Pai, Jesus diz: «Não se vendem cinco pardais por duas moedas? Entretanto, nem um só deles passa despercebido diante de Deus. Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados». Eis então «a exortação final: “Não temais, pois valeis mais que muitos pardais!”».
O Papa aprofundou precisamente este aspecto. «Perante todos estes temores» — disse — insinuados pelo «vírus», do «fermento da hipocrisia farisaica», devemos ser confortados pelo que nos diz Jesus: «Há um Pai, um Pai que vos ama, um Pai que cuida de vós». Diante da «sedução do claro-escuro, da serpente», Jesus acalma-nos: «Tranquilos, o Pai ama-vos, defende-vos. Confiai nele. Não temais estas coisas». Assim, explicou o Papa, Jesus «partindo do mais pequenino no meio de tanta gente, chega ao maior, ao Pai que cuida de tudo, até dos mais pequeninos, para que não adoeçam nem sejam contagiados por esta doença». Frisou Francisco: «Quando Jesus nos diz isto, convida-nos a rezar», a orar a fim de não cairmos «nesta atitude farisaica que não é luz nem trevas», que está sempre a meio caminho e «nunca chegará à luz de Deus».
Por isso, concluiu, «oremos muito». Peçamos ao Senhor: «Preserva a tua Igreja, que somos todos nós: protege o teu povo, que se tinha reunido e que se pisavam entre si, uns aos outros. Conserva o teu povo, para que ame a luz, a luz que vem do Pai, que vem do teu Pai». Devemos, disse ainda o Papa, pedir a Deus que tutele o seu povo «para que não se torne hipócrita, para que não caia na tibieza da vida», para que «tenha a alegria de saber que existe um Pai que nos ama muito». 
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