quarta-feira, 2 de julho de 2014

O homem encontra-se, pois, dividido em si mesmo

A liberdade humana: «rogaram-Lhe que Se retirasse daquela região».
Estabelecido por Deus num estado de santidade, o homem, seduzido pelo maligno, logo no começo da sua história abusou da própria liberdade, levantando-se contra Deus e desejando alcançar o seu fim fora dele. Tendo conhecido a Deus, não Lhe prestou a glória a Ele devida, mas o seu coração insensato obscureceu-se e ele serviu a criatura, preferindo-a ao Criador (Rom 1,21ss). E isto que a revelação divina nos dá a conhecer concorda com os dados da experiência. Quando o homem olha para dentro do próprio coração, descobre-se também inclinado para o mal, e imerso em muitos males, que não podem provir do seu Criador, que é bom. Muitas vezes, recusando reconhecer Deus como seu princípio, perturbou também a devida orientação para o fim último, e simultaneamente toda a sua ordenação, quer para si mesmo, quer para os demais homens e para toda a criação.

O homem encontra-se, pois, dividido em si mesmo. E assim, toda a vida humana, quer singular quer coletiva, se apresenta como uma luta dramática entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas. Mais: o homem descobre-se incapaz de repelir por si mesmo as arremetidas do inimigo, sentindo-se como que preso com cadeias. Mas o Senhor em pessoa veio libertar e fortalecer o homem, renovando-o interiormente e lançando fora o príncipe deste mundo (cf Jo 12,31), que o mantinha na servidão do pecado. Porque o pecado diminui o homem, impedindo-o de atingir a sua plena realização.

A sublime vocação, bem como a profunda miséria que os homens em si mesmos experimentam, encontram a sua explicação última à luz desta revelação.


Concílio Vaticano II
Constituição sobre a Igreja no mundo contemporâneo «Gaudium et spes», § 13





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