segunda-feira, 21 de julho de 2014

Lavaram as suas manchas em torrentes de lágrimas


«Porque fizeram penitência»

Meditemos sobre os ninivitas […], escutemos o que fizeram.

Depois da terrível proclamação que Jonas fez a este povo ébrio e glutão […],

Como hábeis operários acorreram a consolidar

A cidade minada pelas suas más ações

E para tal serviram-se duma rocha firme […], o arrependimento.


Lavaram as suas manchas em torrentes de lágrimas,

Adornaram a cidade com as suas orações,

E Nínive, convertida, agradou ao Pai Misericordioso,

Apresentando de imediato a beleza do seu íntimo

Àquele que sonda os corações (Sl 7,10) […].

Assim, ungida com o óleo das boas obras e perfumada com o jejum,

Foi restituída Àquele que a ama […] e Ele aceitou o seu arrependimento.


O seu rei, um homem sábio, […] aprontou animais e rebanhos

Como se fossem para um dote e disse:

«Ofereço-Vos tudo, meu Deus, meu Salvador.

Reconciliai e reconduzi na Vossa graça

A que se prostituiu e traiu […] a Vossa pureza,

Porque aqui está ela de novo, no seu amor,

A trazer-Vos, qual oferta, o seu arrependimento.


Se eu, o soberano monarca, tiver pecado, que só eu seja punido,

E os demais perdoados na Vossa misericórdia.

Mas se todos Vos tivermos ofendido, escutai o clamor de todos nós […],

Venha sobre nós o Vosso auxílio e todo o medo será dissipado.

Nada mais poderá atemorizar-nos

Se Vos dignardes receber a nossa oferta: o arrependimento.


A rebelde Nínive lança-se a Vossos pés

E eu, miserável rei e Vosso desprezível servo,

Indigno do trono, sento-me sobre a cinza (Jn 3,6);

Tendo insultado a Vossa coroa, espalho poeira sobre a minha cabeça;

Como não mereço a púrpura, vesti-me de serapilheira

E desatei as minhas lamentações.

Poupai-nos ao desdém, lançai sobre nós o Vosso olhar,

Ó Salvador, e aceitai o nosso arrependimento».


Filho Unigénito, ó Único Deus, que fazeis a vontade dos que Vos amam,

Protegei-os na Vossa misericórdia […] como dantes tivestes pena dos ninivitas […]

E livrai do juízo todos os que hoje Vos dedicam o seu canto.

Dai-me o Vosso perdão como prêmio da minha confissão […]

E como não possuo obras dignas da Vossa glória,

Ó Salvador, salvai-me ao menos pelas minhas palavras de contrição,

Vós que prezais o arrependimento.

São Romano, o Melodista (?-c. 560), compositor de hinos
Hino Nínive, §§ 4-17; SC 99





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