«Estendia as mãos todos os dias a um povo rebelde»
(cf Is 65,2; Rom 10,21)
«Por isso vos exorto, irmãos, pela misericórdia de Deus» (Rom 12,1). Paulo faz um pedido, ou melhor, Deus faz um pedido através de Paulo, porque prefere ser amado a ser temido. Deus faz um pedido porque prefere ser Pai que Senhor. […] Escuta o Senhor pedir [através de seu Filho]: «Estendia as mãos todos os dias.» Pois não é estendendo as mãos que normalmente se pede? «Estendia as mãos». A quem? «Ao povo». A que povo? A um povo que não era apenas descrente, mas «rebelde». «Estendia as mãos»: Ele abre os seus braços, dilata o seu coração, apresenta o peito, oferece o seio, faz de todo o seu corpo um refúgio, mostrando nesta súplica até que ponto é Pai. Escuta Deus a pedir noutra passagem: «Povo meu, que te fiz Eu, em que te contristei?» (Mq 6,3) Pois não diz Ele: «Se não reconheceis a minha divindade, reconhecereis a minha carne»? «Vede, vede em mim o vosso corpo, os vossos membros, as vossas entranhas, os vossos ossos, o vosso sangue! E se temeis o que é de Deus, porque não amais o que é vosso? Se fugis do Senhor, porque não correis para o Pai?»
«Mas a enormidade da Paixão de meu Filho, causada por vós, pode cobrir-vos de confusão. Não tenhais medo! Essa cruz não é o meu patíbulo, mas o patíbulo da morte. Esses cravos não fixam em mim a dor, mas cravam mais profundamente em mim o amor que tenho por vós. Essas feridas não me arrancam gritos, introduzem-vos ainda mais no fundo do meu coração. O esquartejamento do meu corpo dá-vos um lugar maior no meu seio, não aumenta o meu suplício. Não perco o meu sangue, derramo-o para resgatar o vosso.»
«Vinde portanto, regressai, reconhecei em mim um Pai que paga o mal com o bem, a injustiça com o amor, e tais feridas com uma tão grande ternura.»
São Pedro Crisólogo (c. 406-450), bispo de Ravena, doutor da Igreja
Sermão 108; PL 52, 499
Nenhum comentário:
Postar um comentário