sábado, 12 de abril de 2014

«Tudo, seja o que for, terminará em bem.»


«É melhor que morra um só homem pelo povo»
O nosso bom Senhor disse-me certa vez: «Todas as coisas vão acabar em bem»; e doutra vez disse-me: «Verás que tudo acabará em bem.» Com estas palavras, a minha alma percebeu […] que Ele quer que saibamos que Ele presta atenção, não somente às coisas nobres e grandes, mas também às que são humildes, pequenas, pouco elevadas, simples. É isto que Ele quer dizer quando declara: «Tudo, seja o que for, terminará em bem.»
Ele quer fazer-nos entender que nem a menor coisa será esquecida. E quer que compreendamos que muitas ações são tão más a nossos olhos e nos causam tanta dor, que parece impossível que possam ter um fim bom; e assim, afligimo-nos e lamentamo-nos, de tal modo que deixamos de ser capazes de encontrar a paz na contemplação bem-aventurada de Deus, como devíamos. Porque aqui em baixo raciocinamos de forma tão cega, tão baixa, tão simplista, que nos é impossível conhecer a sabedoria elevada e maravilhosa, o poder e a bondade da Santíssima Trindade. […] É como se Deus dissesse: «Tende o cuidado de acreditar e confiar em Mim, e no final vereis tudo na verdade, e portanto na plenitude da alegria.» […]
Há uma obra que a Santíssima Trindade realizará no último dia, segundo vejo. Quando esta obra vai ser feita e como será feita, nenhuma criatura abaixo de Cristo o sabe e ninguém o saberá até ao seu cumprimento. […] Se Deus quer que saibamos que Ele fará esta obra, é para que estejamos mais à vontade, mais pacificados no amor, que deixemos de fixar o olhar nas tempestades que nos impedem de verdadeiramente nos alegrarmos nele. Esta é a grande obra ordenada por Nosso Senhor desde toda a eternidade, um tesouro profundamente escondido no seu seio bendito, e só conhecida por Ele. Por esta obra, Ele vai garantir que tudo acabe em bem, porque tal como a Santíssima Trindade criou todas as coisas do nada, assim vai tornar boas todas as coisas que o não são.
Juliana de Norwich (1342-depois de 1416), mística inglesa
«Revelações do Amor Divino», cap. 32

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