segunda-feira, 14 de abril de 2014

Cristo traria vida aos mortos

«Deixa que ela o tenha guardado
 para o dia da minha sepultura!»
«Ao chegar, Jesus encontrou Lázaro sepultado havia quatro dias. […] Então Jesus começou a chorar» (Jo 11,17.35). Porque chorou Nosso Senhor diante do túmulo de Lázaro? […] Chorou por compaixão pelo luto dos outros […]; chorou ao ver a angústia do mundo […].
Mas houve outros pensamentos que também provocaram as suas lágrimas. Como foi conquistada esta benesse prodigiosa em favor das duas irmãs? À sua própria custa. […] Cristo traria vida aos mortos pela sua própria morte. Os seus discípulos tinham tentado dissuadi-Lo de regressar à Judeia, com medo de que O matassem (cf Jo 11,8); e os seus medos concretizaram-se. Ele foi ressuscitar Lázaro e a fama desse milagre foi a causa imediata da sua prisão e crucifixão (cf Jo 11,53). Ele sabia disso tudo com antecedência […]: viu a ressurreição de Lázaro, a refeição em casa de Marta, com Lázaro à mesa, uma grande alegria, Maria a homenageá-Lo durante a refeição festiva derramando um perfume muito caro sobre os seus pés, os judeus acorrendo em grande número, não apenas para O verem mas também para verem Lázaro, a sua entrada triunfal em Jerusalém, a multidão que gritava «Hossana», as pessoas que testemunhavam a ressurreição de Lázaro, os gregos que tinham vindo adorar a Deus durante a Páscoa e que quiseram vê-Lo a todo custo, as crianças que participavam da alegria geral — e depois os fariseus conspirando contra Ele, a traição de Judas, o abandono dos seus amigos, a cruz que O recebeu. […]
Ele pressentiu que Lázaro regressava à vida à custa do seu próprio sacrifício, que Ele descia ao sepulcro que Lázaro deixara, que Lázaro iria viver e Ele morrer. As aparências seriam invertidas: houve uma festa em casa de Marta mas a última Páscoa de amargura seria unicamente sua. E Ele sabia que aceitava esta inversão de bom grado, pois tinha vindo do seio de seu Pai para expiar com o seu sangue os pecados de todos os homens e assim fazer ressuscitar do túmulo todos os crentes.
Beato John Henry Newman (1801-1890), presbítero, fundador do Oratório em Inglaterra
Sermão «As lágrimas de Cristo no túmulo de Lázaro», PPS, t. 3, n° 10




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