sexta-feira, 21 de março de 2014

«Eu sou a videira verdadeira»


«E, agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e mataram-no.»
«Eu sou a videira verdadeira», diz Jesus (Jo 15,1). […] Cavamos trincheiras ao redor desta vinha, quer dizer, cavamos armadilhas secretas. Ao conspirar para fazer alguém cair numa armadilha, é como se abríssemos um buraco na sua frente. É por isso que ele se lamenta, dizendo: «Cavaram uma cova diante de mim» (Sl 56,7). […] Eis um exemplo dessas armadilhas: «Trouxeram uma mulher apanhada em adultério» ao Senhor Jesus, «dizendo: “Moisés mandou-nos apedrejar tais mulheres. E tu, o que dizes?”» (Jo 8,3ss). […] E outro: «É lícito ou não pagar tributo a César?» (Mt 22,17) […]

Mas descobriram que estas ciladas não eram prejudiciais à videira; pelo contrário, cavando tais covas, foram eles próprios que caíram dentro delas (Sl 56,7). […] Então, avançaram: não só lhe prenderam as mãos e pés (Sl 21,17), como lhe perfuraram o lado com uma lança (Jo 19,34), pondo a descoberto o interior desse coração santíssimo, que já tinha sido ferido pela lança do amor. No seu cântico de amor, o Esposo diz: «Feriste-me o coração, irmã, minha esposa» (Cant 4,9 Vulg). Senhor Jesus, o teu coração foi ferido de amor pela tua esposa, tua amiga, tua irmã. Porque era necessário seres ainda ferido pelos teus inimigos? O que fazeis, inimigos? […] Não sabeis que esse coração do Senhor Jesus, já atingido, já está morto, já está aberto, e não pode ser afetado por mais sofrimentos? O coração do Esposo, do Senhor Jesus, já recebeu a ferida do amor, a morte do amor. Que outra morte poderia ocorrer? […] Os mártires também se riem quando são ameaçados, alegram-se quando são atingidos, triunfam quando são mortos. Porquê? Porque já estão mortos de amor em seu coração, «mortos para o pecado» (Rom 6, 2) e para o mundo. […]

O coração de Jesus foi portanto ferido e morto por nós […]; a morte física triunfou por momentos, mas para ser vencida para sempre. Foi destruída quando Cristo ressuscitou dos mortos, porque «a morte já não tem domínio sobre Ele» (Rom 6,9).
São Boaventura (1221-1274), franciscano, doutor da Igreja
A videira mística, cap. 3º, §§ 5-10




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