Jogos de poder
Quando se perde a dimensão do serviço «o poder transforma-se em arrogância», tornando-se «domínio e prepotência» para alimentar os «jogos sujos feitos pelos seres humanos». Advertindo contra esta lógica perversa o Papa Francisco falou sobre a relação entre misericórdia e poder na audiência geral de quarta-feira 24 de fevereiro na praça de São Pedro.
Prosseguindo as reflexões dedicadas ao ano jubilar, o Pontífice inspirou-se no trecho tirado do primeiro livro dos Reis (21, 1b-4a), evidenciando que na Bíblia em vários episódios se fala de «alguns poderosos, homens que estão “no alto” e dos seus abusos», para fazer entender que «a riqueza e o poder podem ser úteis» se forem postos «ao serviço dos pobres e de todos, com justiça e caridade». Mas se, «como frequentemente acontece, são vividos como privilégio, com egoísmo e prepotência, transformam-se em instrumentos de corrupção e morte». É o que acontece no episódio da vinha de Nabot, que o rei de Israel, Acab, quer comprar, reagindo à recusa do proprietário «com amargura e desprezo». A ponto que a esposa Jezabel «decide intervir» e eliminar Nabot, servindo-se «das desculpas falsas de uma legalidade perversa».
Eis então a consideração do Papa Francisco: «Esta é também história de hoje, dos poderosos que para obter mais dinheiro exploram os pobres, exploram as pessoas. É a história do tráfico de pessoas, do trabalho escravo, de gente simples que trabalha sem garantias, recebe um salário mínimo para enriquecer os poderosos. É a história dos políticos corruptos». E a este propósito recomendou a leitura durante a Quaresma do pequeno livro de santo Ambrósio intitulado precisamente Nabot. De resto, acrescentou, «o exercício de uma autoridade sem respeito, justiça nem misericórdia» leva à «avidez que quer possuir tudo». Mas – e isto vale sobretudo para o ano santo – «Deus é maior do que a malvadez e na sua misericórdia envia o profeta Elias para ajudar Acab a converter-se. E o rei compreende e pede perdão. Que bom seria – disse – se os poderosos exploradores de hoje fizessem o mesmo».
Porque também neste caso «a misericórdia mostra a via mestra que deve ser perseguida»: ela – concluiu Francisco – «pode curar as feridas e mudar a história». Eis a exortação a abrir «o coração à misericórdia divina» que «é mais forte do que o pecado dos homens».
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