sábado, 22 de agosto de 2015

Humildade



«O maior de entre vós será o vosso servo»

Irmãos, a Escritura divina proclama-nos que «quem se exaltar será humilhado e quem se humilhar será exaltado» e com isso quer mostrar-nos que toda a exaltação é uma forma de orgulho. Assim prova o salmista, que dele se acautela quando diz: «Senhor, o meu coração não é orgulhoso, nem os meus olhos são altivos; não corro atrás de grandezas ou de coisas superiores a mim» (Sl 130,1). [...] Daqui resulta, irmãos, que, se quisermos atingir o cume da suprema humildade e chegar rapidamente às alturas celestes aonde podemos subir pela humildade de vida terrena, temos de pôr de pé a escada que apareceu em sonhos a Jacob e trepar por ela com os nossos actos tal como ele viu «os anjos subir e descer» (Gn 28,12). Pois este subir e este descer não podem ter para nós outro significado senão o de pela exaltação descer e pela humildade subir. Ora, aquela escada posta de pé mais não é do que a nossa vida neste mundo, que o Senhor levanta até ao céu sempre que o nosso coração se humilha. [...]


O primeiro degrau da humildade consiste em ter sempre presente no pensamento o temor de Deus e em nunca o esquecer, esforçando-nos por relembrar sempre tudo aquilo a que Deus mandou obedecer. [...] Para estar vigilante contra a malícia dos seus pensamentos, o irmão deveras humilde há-de repetir sem parar no seu coração: «Tenho sido sincero para com Deus e guardei-me do pecado» (Sl 17,24). E quanto a seguirmos a nossa vontade própria, a Escritura no-lo impede ao dizer-nos: «Refreia os teus apetites» (Sir 18,30). É por essa razão que, no Pai Nosso, pedimos a Deus que a sua vontade se faça em nós. [...] «Os olhos do Senhor observam maus e bons; do céu o Senhor olha para os seres humanos, a ver se há alguém sensato, alguém que ainda procure a Deus» (Pr 15,3; Sl 13,2). [...]


Tendo subido todos os degraus da humildade, o monge depressa chegará ao amor de Deus, a esse amor que, tornado perfeito, afugenta todo o temor (1Jo 4,18); graças a ele, tudo aquilo que dantes cumpria a medo, agora levará a cabo sem custo algum, com toda a naturalidade e de modo habitual, [...] por amor a Cristo, por hábito do bem e gosto da virtude. Tudo isso o Senhor Se dignará manifestar de aí em diante no seu operário, pelo Espírito Santo.

Comentário do dia:

São Bento (480-547), monge, co-padroeiro da Europa
Regra monástica, cap. 7


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