domingo, 22 de junho de 2014

A violência transforma-se em amor


«A Minha carne é uma verdadeira comida e o Meu sangue uma verdadeira bebida»
«Isto é o meu Corpo dado em sacrifício por vós. Isto é o cálice da Nova Aliança no meu Sangue». [...] O que se passa aqui? Como pode Jesus dar o seu Corpo e o seu Sangue? Ao fazer do pão o seu Corpo e do vinho o seu Sangue, Ele antecipa a sua morte, aceita-a no seu íntimo e transforma-a num gesto de amor. Aquilo que, visto do exterior, é violência brutal [a crucifixão], torna-se, visto do interior, um gesto de amor que se doa totalmente. Foi esta a transformação substancial que se realizou no cenáculo e que estava destinada a suscitar um processo de transformações cuja finalidade última é a transformação do mundo, até chegar à condição em que Deus será tudo em todos (cf 1Cor 15,28).
Desde sempre que todos os homens, de alguma forma, aguardam no seu coração uma mudança, uma transformação do mundo. Pois este é o único ato central de transformação capaz de renovar verdadeiramente o mundo: a violência transforma-se em amor e, por conseguinte, a morte em vida. E, porque este ato transforma a morte em vida, a morte, como tal, já está superada a partir do seu interior, nela já está presente a ressurreição. A morte está, por assim dizer, ferida intimamente, de modo que jamais poderá ser ela a ter a última palavra. [...]
Esta primeira e fundamental transformação da violência em amor, da morte em vida, arrasta depois consigo as outras transformações. O pão e o vinho tornam-se o seu Corpo e o seu Sangue. Mas a transformação não deve deter-se neste ponto, antes, é aqui que deve começar plenamente. O Corpo e o Sangue de Cristo são-nos dados para que nós mesmos, por nossa vez, sejamos transformados. Nós próprios devemos tornar-nos Corpo de Cristo, seus consanguíneos. Todos comemos o único Pão, mas isto significa que entre nós nos tornamos uma só coisa. A adoração, dissemos, torna-se assim união. Deus já não está só diante de nós como o Totalmente Outro. Está dentro de nós, e nós estamos nele. A sua dinâmica penetra-nos e, a partir de nós, deseja propagar-se aos outros e difundir-se em todo o mundo, para que o seu amor se torne realmente a medida dominante do mundo.
Bento XVI, papa de 2005 a 2013
Homilia, celebração eucarística da 20ª Jornada Mundial da Juventude, 21/08/05



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