sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Osteoporose da alma


· Missa em Santa Marta ·
22 de Setembro de 2016
É a vaidade, juntamente com a avidez e a altivez, uma das «raízes de todos os males» no coração de cada pessoa. A corrida frenética, tão característica dos nossos tempos, «para fingir, para parecer, para aparecer» não leva a nada, «não nos dá um lucro verdadeiro» e deixa a inquietação na alma.
A vanitas vanitatum do Qoèlet (1, 2-11), proposta pela liturgia do dia, esteve no centro da meditação do Papa Francisco durante a missa celebrada em Santa Marta, na manhã de quinta-feira 22 de setembro. Contudo, ponto de partida foi a inquietação do rei Herodes Antipas descrita no Evangelho de Lucas (9, 7-9). De facto, o soberano «estava inquieto» porque aquele Jesus sobre o qual todos falavam «era para ele uma ameaça». Alguns pensavam que fosse João, mas o rei repetia: «Eu degolei João. Quem é, pois, este, de quem ouço tais coisas?». Uma inquietação, observou o Pontífice, que recorda a do pai, Herodes o grande, o qual, quando chegaram os reis magos para adorar Jesus, «ficou atemorizado».
A nossa alma, explicou o Papa, «pode ter duas inquietações: a boa, que é a inquietação do Espírito Santo, que nos dá Espírito Santo, e faz com que a alma esteja inquieta para fazer coisas boas, para ir em frente: e há também a má inquietação, a que nasce de uma consciência suja». Precisamente esta última caracterizava os dois soberanos contemporâneos de Jesus: «tinham a consciência suja e por esta razão estavam inquietos, porque tinham feito coisas más e não encontravam paz, e qualquer acontecimento lhes parecia uma ameaça». Aliás, o seu modo de resolver os problemas era assassinar, e iam em frente passando «por cima dos cadáveres das pessoas».
Quem como eles, explicou Francisco, «comete o mal», tem «a consciência suja e não pode viver em paz»: a inquietação tormenta-os e vivem «com uma comichão constante, com uma urticária que não os deixa em paz». Uma realidade interior sobre a qual se concentrou a reflexão do Papa: «esta gente cometeu o mal, mas o mal tem sempre a mesma raiz, qualquer mal: a avidez, a vaidade e a altivez». Todas elas, acrescentou, «não te deixam a consciência em paz», todas impedem que entre «a inquietação sadia do Espírito Santo», e «levam a viver assim: inquietos, com medo».
A este ponto, solicitado pela primeira leitura, o Pontífice deteve-se sobre a vaidade: «Vaidade das vaidades, vaidade das vaidades... Tudo é vaidade». A expressão do Qoèlet, observou, pode parecer «um pouco pessimista», embora na realidade «nem tudo seja assim: há gente boa». Mas, explicou Francisco, «o texto quer sublinhar esta tentação muito nossa, que é inclusive a primeira dos nossos pais: ser como Deus». Com efeito, a vaidade, «incha-nos», mas «não tem longa vida, porque é como uma bolha de sabão» e nunca dá «um verdadeiro lucro». Não obstante tudo, o homem «esforça-se por parecer, por fingir, por aparecer». Por outras palavras: «A vaidade é camuflar a própria vida. E isto adoece a alma, porque há quem camufla a própria vida para parecer, para aparecer, e todas as coisa que faz são para fingir, por vaidade, mas no fim de contas o que ganha?».
Para fazer melhor compreender esta realidade interior, o Papa usou algumas imagens concretas: «a vaidade é uma “osteoporose” da alma: os ossos de fora parecem bons, mas dentro estão todos deteriorados». E ainda: «A vaidade leva-nos à fraude; como os impostores marcam o baralho para lucrar. Mas esta vitória é fingida, não é verdadeira. Esta é a vaidade: viver para fingir, viver para parecer, viver para aparecer. E isto inquieta a alma».
A este respeito, recordou o Papa, são Bernardo exprimia-se dirigindo-se ao vaidoso com uma palavra «até muito forte»: «Mas pensa naquilo que serás. Serás comida para vermes». Ou seja: «todo este esforço para camuflar a vida é uma mentira, porque te comerão os vermes e não serás nada». Mas «onde está a força da vaidade?», questionou-se Francisco. «Impelidos pela altivez a cometer maldades» não se quer «permitir que se veja um erro», procura-se «cobrir tudo». É verdade que há muita «gente santa»; mas é igualmente verdade que há pessoas das quais pensamos: «Que boa pessoa! Vai à missa todos os domingos. Faz grandes ofertas à Igreja», sem se dar conta da «osteoporose», da «corrupção que tem dentro». Aliás, «a vaidade é esta: faz-te parecer com uma cara de santinho e depois a tua verdade dentro é muito diferente».
Perante tudo isto, concluiu o Papa, «onde está a nossa força e a segurança, o nosso refúgio?». Também a resposta chega da liturgia. De facto, no salmo do dia lê-se: «Senhor tu foste para nós um refúgio de geração em geração». E no canto ao Evangelho recordam-se as palavras de Jesus: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida». Esta, disse Francisco, «é a verdade, não a maquilhagem da vaidade».
Portanto, é importante rezar para «que o Senhor nos liberte destas três raízes de todos os males: a avidez, a vaidade e a altivez. Mas sobretudo da vaidade, que nos faz muito mal».
Missa em Santa Marta

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