segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Carta escrita no cárcere



«Salva-me, Senhor!»

Não vou deixar de ter confiança, Meg, na bondade de Deus, por mais receio que tenha de, com medo, poder vacilar. Mas lembro-me sempre de São Pedro que, à primeira rajada de vento, começou a afundar-se por causa da sua pouca fé; se tal me vier a acontecer, farei como ele: gritar por Cristo e pedir-Lhe que me ajude. E assim espero que Ele estenda a Sua mão para me segurar e me salvar das águas tumultuosas, impedindo que me afogue.

E se Ele permitir que a minha semelhança com Pedro vá mais longe, ao ponto de me precipitar e cair totalmente, jurando e abjurando (que de tal coisa Deus me livre na sua infinita misericórdia e que, se assim for, dessa queda me venha antes mal do que bem), ainda assim espero que o Senhor me dirija, tal como fez a Pedro, um olhar cheio de compaixão (Lc 22,61) e me levante de novo para que possa outra vez confessar a verdade da minha consciência e suportar aqui o castigo e a vergonha da minha anterior negação.

Por fim, querida filha, estou plenamente convencido de que, sem culpa própria, Deus não me abandonará. Por isso, com toda a certeza e esperança me entrego nas suas mãos. […] Assim, minha querida filha, fica tranquila e não te preocupes comigo, seja o que for que me aconteça neste mundo. Nada pode acontecer-me que Deus não queira. E seja o que for que Ele queira, por muito mau que nos pareça, é na verdade o melhor.

São Tomás Moro (1478-1535), estadista inglês, mártir
Carta escrita no cárcere a sua filha, 1534 (trad. Breviário, 22/6, rev.)


Thomas More passou à história universal como autor da "Utopia", publicada em cerca de 1516, obra em que criou um reino-ilha imaginário cuja sociedade funcionava de modo justo e perfeito.

Utopia tornou-se uma palavra comum do vocabulário universal para designar sociedades perfeitas ou ideais, embora impossíveis. Na obra de More, os estudiosos atuais vêem uma sociedade que se opunha à da Inglaterra de sua época ou uma sátira a esta mesma sociedade.

O escritor é considerado também um grande advogado, embora não existam evidências do fato, já que todos os processos em que participou se perderam. Em 1520, Thomas More passou a frequentar a corte do rei inglês Henrique 8o e recebeu o título de cavaleiro no ano seguinte.





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