segunda-feira, 3 de março de 2014

Carnaval e religiosidade


Muitas são as informações sobre as origem do carnaval. Alguns estudiosos citam ser ele originário da Roma Antiga e, sendo posteriormente incorporado pelas tradições do cristianismo. Na Era Cristã passou a marcar um período de festividades que aconteciam entre o Dia de Reis e a quarta-feira anterior à Quaresma. A origem de tudo, em Roma,  foi a Saturnália, como festa equivalente ao carnaval. Nela um “carro naval” percorria as ruas da cidade enquanto pessoas vestidas com máscaras realizavam jogos e brincadeiras.
Há quem aponte que o termo “carnaval” significa o “adeus à carne” ou “a carne nada vale” , sendo um período destinado à celebração dos prazeres terrenos. Outros especialistas relacionam as festas carnavalescas com os rituais de adoração aos deuses egípcios Ísis e Osíris.
A celebração regular do carnaval passou a ocorrer na Era Cristã quando, em 1091, a Igreja oficializou a data da Quaresma. Com isso, o carnaval começou a ser usualmente comemorado como uma forma de preparação para o período religioso, permitindo-se maior liberalidade às pessoas.
Desse modo, a palavra carnaval é originária do latim, carnis levale, cujo significado é retirar a carne. O significado está relacionado com o jejum que deveria ser realizado durante a quaresma e também com o controle dos prazeres mundanos, sendo uma tentativa da Igreja Católica de enquadrar uma festa pagã.
Fala-se também de carnaval na antiga Babilônia, sendo as Saceias uma festa em que um prisioneiro assumia durante alguns dias a figura do rei, vestindo-se como ele, alimentando-se da mesma forma e dormindo com suas esposas. Ao final, o prisioneiro era chicoteado e depois enforcado ou empalado.
 Algo parecido  também ocorria na Mesopotâmia no templo de Marduk, onde o rei perdia seus emblemas de poder e era surrado na frente da estátua do deus pagão. Essa humilhação servia para demonstrar a submissão do rei à divindade. Em seguida, ele novamente assumia o trono. Há quem aponte nisso a origem do simbolismo das autoridades passarem as chaves da cidade para o rei Momo.
No mundo moderno, algumas críticas apontam o carnaval como uma forma de os governantes utilizarem o período para as pessoas estravasarem as grandes dificuldades de suas vidas desde os problemas financeiros, sociais, afetivos, entre outros.
O teólogo Sandson Rotterdan, graduado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG),  é de opinião que "a meu ver, acho que o vínculo se perdeu. O Carnaval é uma festa desvinculada da Quaresma até mesmo pelas igrejas cristãs. É muito comum grupos religiosos fazerem retiros nesse tempo. Penso que aí ocorre um desvirtuamento do Carnaval. Em contrapartida, o dia das cinzas é somente mais um feriado, e o Carnaval se estende até o primeiro domingo da Quaresma, que é outro desvirtuamento”.
É comum muitos cristãos brincarem normalmente o carnaval, mas tal prática é condenada por alguns. Outros alegam que fé e consciência limpa são inseparáveis na vida do cristão, inclusive durante essas festividades. "Tudo o que não procede da fé é pecado", ensina São Paulo (cf. Rm 14,23). A fé é a luz que ilumina a consciência e a confirma nas convicções morais. Por isso a pergunta não deve ser: "é pecado pular Carnaval?".
O historiador E. P. Thompson em sua obra "A formação da classe operária inglesa" também vê a ação dos governos nas festas populares, como uma forma de direcionar a vida das pessoas. Thompson, ao analisar a situação da classe trabalhadora na Inglaterra na passagem para o século XIX, afirma que o Metodismo mediou a disciplina do trabalho na industrialização. As proibições metodistas contra jogos de cartas, danças, teatro etc. deixavam clara sua intenção de extirpar as tradições pré-industriais dos distritos manufatureiros. Dessa forma, as diversões dos pobres foram alvo de uma forte oposição religiosa e legal.
De qualquer forma, o mais importante parece estar na lição do apóstolo Paulo quando ensina que  "Tudo o que não procede da fé é pecado". Desse modo, cada cristão, por exemplo, deve estar consciente de seus atos, quer na folia ou em um retiro religioso.

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