sexta-feira, 29 de abril de 2016

Papa Francisco

Novidades e resistências

· ​Missa em Santa Marta ·

A partir de Pentecostes o «protagonista da Igreja» é o Espírito Santo: é ele quem «move tudo», que ajuda «a ser fortes no martírio», mas também «a vencer as resistências» que podem emergir no seio da própria comunidade cristã. Foi a história de um caminho – percorrido pela Igreja desde as origens até aos nossos dias – a que narrou o Papa Francisco na homilia presidida durante a missa celebrada em Santa Marta na quinta-feira 28 de abril. Um caminho que, desde dos primeiros encontros entre os apóstolos, foi marcado por algumas atitudes: «reunir-se», «ouvir-se uns aos outros», «debater», «rezar e decidir» com o Espírito Santo. É este, frisou o Pontífice, o caminho «da sinodalidade», no qual «se exprime a comunhão da Igreja», que é obra do Espírito.
«O protagonista da Igreja, do trabalho da Igreja, do crescimento da Igreja» é o Espírito. Como recordou o Papa, este dado sobressai claramente das Escrituras. Com efeito, foi ele «quem desde o primeiro momento deu força aos apóstolos, um por um, para proclamar o Evangelho, o nome de Jesus». O Espírito «disse a Filipe: “Vai por aquele caminho, onde estava o prosélito etíope e ouve...”»; do mesmo modo enviou Pedro para Cesareia e a Paulo «disse num sonho: “Vai para a Macedónia”». Precisamente ali, onde Paulo e Silas foram presos, foi sempre o Espírito quem moveu o coração do carcereiro o qual, perante eventos extraordinários – nos Atos dos apóstolos lê-se: «Subitamente, sentiu-se um terramoto tão grande que se abalaram até os fundamentos do cárcere. Abriram-se logo todas as portas e soltaram-se as algemas de todos» (16, 26) – pediu o batismo.
O Pontífice concluiu: «É o Espírito que faz tudo, é o Espírito que leva em frente a Igreja». Mas, acrescentou, leva-a em frente «confrontando-se também com os seus problemas». Assim, «quando se desencadeia a perseguição, por exemplo, depois do martírio de Estêvão é o Espírito que dá a força aos crentes para permanecer na fé». E é também ele «quem faz fugir os crentes de Jerusalém, depois do martírio de Estêvão», impelindo-os a «levar a fé em Jesus a outros lugares».
Também no trecho proposto pela liturgia do dia, tirado dos Atos dos apóstolos (15, 7-21), encontra-se a ação do Espírito que «leva em frente a Igreja nos momentos de paz, júbilo, conversão, mas também nos momentos difíceis de perseguições e inclusive de resistências e de obstinação dos doutores da lei». De facto, no trecho em questão lê-se acerca da «resistência de quantos acreditavam que Jesus viera só para o povo eleito». Eles, ouvindo que o Espírito Santo viera «sobre os pagãs, gregos, sobre aqueles que não pertenciam ao povo de Israel», rebelavam-se dizendo: «Mas não, isto não se pode fazer». Mesmo animados pela «boa vontade», faziam «resistência». Assim como quando eles mesmos introduziam outras exceções: «Mas, sim, é verdade, o Espírito Santo veio sobre eles, mas devem percorrer o caminho segundo a lei, para chegar à graça, ou seja, a circuncisão e todos os ritos de pertença ao povo de Israel».
Era uma situação de «grande confusão», aprontada por aquelas que o Papa definiu «as surpresas do Espírito». Isto é, «o Espírito punha os corações num caminho novo» e os apóstolos «depararam-se com situações que nunca teriam imaginado, situações novas». O problema era: «como gerir estas novas situações?». Não é por acaso que o trecho dos Atos começa especificando: «Naqueles dias, dado que tinha surgido um grande debate...». E era, sublinha Francisco, um debate «animado» porque os apóstolos por um lado «tinham a força do Espírito – o protagonista – que impelia para ir em frente, em frente»; mas, ao mesmo tempo, o Espírito «levava-os a certas novidades, coisas que nunca tinham sido feitas», aliás, «nem as tinham imaginado». Como, por exemplo, o fato de que os pagãos pudessem receber o Espírito Santo. Portanto, questionavam-se: «E o que fazemos?». Em síntese, explicou o Pontífice usando uma expressão comum, «tinham a batata quente nas mãos, e não sabiam o que fazer».
Portanto, nos atos lê-se que por este motivo fizeram uma reunião na qual cada um narrou «a própria experiência – Paulo, Barnabé, o próprio Pedro» – e que por fim os apóstolos «chegaram a um acordo». Mas, realçou o Papa, antes da solução final nota-se «uma cosia bonita: “Toda a assembleia silenciou e começaram a ouvir Barnabé e Paulo, que referiam os grandes sinais e prodígios que Deus tinha realizado entre as nações, no meio deles». Ou seja, na narração sobressai um aspeto fundamental: o facto de «ouvir, não ter medo de ouvir». É importante porque, disse Francisco, «quando uma pessoa tem medo de ouvir, não tem o Espírito no seu coração». E sobretudo é importante «ouvir com humildade».
Com efeito, os apóstolos só «depois de terem ouvido decidiram enviar às comunidades gregas, ou seja, aos cristãos que vieram do paganismo», alguns discípulos «para os tranquilizar e dizer: “Está bem assim”». Portanto, «chegaram a um acordo, enviaram estes irmãos e decidiram escrever uma carta». E também naquela carta, reafirmou o Pontífice, «o protagonista é o Espírito Santo». A ponto que nela se lê: «Apareceu ao Espírito Santo e a nós...» e noutras traduções: «O Espírito Santo é nós decidimos...». Ou seja, é evidente que os apóstolos «guiam a Igreja com o Espírito».
A leitura do dia é sem dúvida indicativa de qual seja «o caminho da Igreja diante das perseguições» e também perante as «surpresas do Espírito, porque o Espírito nos surpreende sempre». Como se enfrentam os problemas»? «Com a reunião, a escuta, o debate, a oração e a decisão final. E ali está o Espírito». Um estilo, um caminho seguido desde as origens «até hoje», cada vez que o «Espírito nos surpreende» com algo do qual se diz: «nunca se fez assim»; ou: «deve ser feito assim».
«Pensai – acrescentou o Papa recorrendo a um exemplo “mais próximo de nós” – no Vaticano II, nas resistências que encontrou». Também hoje, disse, há «resistências que continuam de uma forma ou de outra, e o Espírito vai em frente». Mas «o caminho da Igreja é este: reunir-se, unir-se, ouvir-se reciprocamente, debater, rezar e decidir. Esta é a chamada sinodalidade da Igreja, na qual se exprime a comunhão da Igreja».
E mais uma vez, explicou Francisco, encontramos o «protagonista» de sempre. Com efeito, «quem faz a comunhão? É o Espírito!»; e «o que nos pede o Senhor? Docilidade ao Espírito», ou seja, «não ter medo, quando constatamos que é o Espírito que nos chama». Aliás, por vezes, é o próprio Espírito que «nos detém» e nos indica o caminho certo. Sem dúvida o Espírito «não nos deixa sozinhos» e «dá-nos a coragem, a paciência, faz-nos caminhar seguros pelas estradas de Jesus, ajuda-nos a vencer as resistências e a ser fortes no martírio». Este espírito, concluiu o Papa, «é o dom do Pai, que Jesus enviou».
Daqui o convite final do Pontífice: «Peçamos ao Senhor a graça de compreender como vai em frente a Igreja, de compreender como desde o primeiro momento enfrentou as surpresas do Espírito» e peçamos também, para cada um de nós, «a graça da docilidade ao Espírito».
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